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Felipe Melo, bom de bola, foi derrotado pelo Pitbull midiático

Menon

29/07/2017 21h00

Felipe Melo é mais do que bom. Tem qualidades inatas à posição – marca muito bem – e tem qualidades raras em sua posição – o passe longo e a inversão de jogadas. E tem muita experiência. Marca bem, passa bem e é experiente. Com tantas qualidades e participando de um elenco forte, seria questão de tempo se transformar em referência, técnica e de liderança, e ser um ídolo verde. Bastava isso. Bastava um pouco de paciência.

Mas Felipe Melo queria mais. Mais rapidez. Não se contentou em seguir o caminho de um Dudu, por exemplo. Quis encurtar o tempo. E recorreu ao seu personagem. Sai de cena o volante bom de bola e entra o pitbull. O que fala muito, o que grita, o que tenta intimidar e o que adora redes sociais. Trocou o caminho íngreme rumo à idolatria, aquele feito de silêncio externo e muita conversa interna, pela necessidade extrema – ego?- de falar clichês.

Essa opção foi facilitada pelo fato de a torcida do Palmeiras, como muitas outras, ser carente. Todas acham que os jornalistas ajudam os rivais. Então, se assumir como um defensor do torcedor, conta muito. É campo semeado para o florescimento da flor Demagogia.

Não é o único. Vocês já repararam que quando um time vence o jogo, na segunda-feria a assessoria de imprensa coloca no site oficial parte da conversa que os jogadores têm antes de entrar em campo? Não sei se é antes ou depois daquela reza em altíssimo som. Mostra-se então um jogador gritando e esbravejando palavras de autoajuda. Parece que o jogo foi ganho por causa daquilo. Mas, eles não falam as mesmas coisas quando perdem? Quando o time perde, a conversa dos jogadores não vai para o site oficial.

Petros é um exemplo. Antes do jogo contra o Vasco, entrou na roda de jogadores e gritou como se fosse um Tarzan. "Tem jogador que falou que vai atropelar a gente, eu ninguém atropela, eu chego antes…." NOTA: reparem no estilo Léo, do Santos, "tem jogador que disse", só que nunca fala o nome do jogador. Bem, o São Paulo venceu e Petros fez uma falta duríssima, que poderia valer o vermelho e afastar a vitória. Mas o vídeo está lá, no site do clube. Petros é o fodão. Já vi torcedor do São Paulo maravilhado com palavras de Banguelê, um volante tosco, que não acerta um passe, mas que falava e gritava e berrava.

São a turma da mídia. Felipe Melo é o Rei. Vou dar murro na cara de uruguaio. Aqui é Palmeiras, porra. Ousadura. Pontapé com responsabilidade. Aliás, foi com responsabilidade contra a Holanda, na Copa? E contra Costa do Marfim, ele reagiu a tanta pancada dos africanos? Não, né? Foi uma candura.

Tem mais Felipe Melo. Desarmou um jogador do Botafogo de Ribeirão Preto, que tentou lhe aplicar um chapéu e ficou no chão. Lá foi Felipe Melo gritar contra alguém deitado no chão. Qual o sentido? Levar a massa à loucura. Felipe Melo faz dancinha na Vila, após uma vitória contra o Santos. E argumenta dizendo que é natural, que futebol é assim, que é bacana provocar. CONCORDO TOTALMENTE. Mas, e quando Henrique Ceifador fez seu gesto característico após um gol contra o Palmeiras? Lá foi Felipe Melo puxar briga.

Sempre joga para a galera. Quer ser ídolo em pouco tempo, sem amassar grama. Só com pastilha Valda na garganta, para poder gritar e gritar e gritar.

Na verdade, Felipe Melo é um líder de si mesmo. Um herói de si mesmo. Nada justifica, por exemplo, sua briga verbal com Roger Guedes em um treino. Falava coisas como tem de respeitar meu currículo, não sou moleque, blablablá. Brigou com o Neto – não digo que esteja errado – mas em que isso ajuda o clube? Nada. Ajuda apenas a solidificar a imagem do machão, do que tem colhão, daquele que veio defender o Palmeiras e sua torcida dos algozes. Quais algozes? Ah, não sei, mas que tem, tem, aqui é Palmeiras, porra.

Felipe Melo nunca se livrou do personagem. Nunca se livrou de sua personalidade ególatra. Pena. O Pitbull venceu o Jogador. Bom jogador. Mais que bom.

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.