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Pepe e Cilinho, os Reis da Resenha de um tempo que não volta mais

Menon

31/07/2017 16h00

Houve um tempo, que nunca voltará, em que os repórteres tinham grande liberdade durante e após os treinos dos grandes clubes. Tudo era aberto, as entrevistas eram livres e os treinadores conversavam com todos. Para nós, era muito bom, para eles, talvez não. Afinal, tudo é fechado hoje em dia. Até o treino de sábado, antes do jogo, imaginem. Porque alguns repórteres não iam, fazendo o material no dia anterior, as assessorias resolveram punir os mais dedicados, os que acordam cedo para o treino de sábado. Como uns não vão, fecha-se para todos. E os leitores são prejudicados.

Não questiono a decisão. Afinal, repórter de Política não participa de reunião de Ministério. Que nossos dedicados treinadores tenham o direito de trabalhar em segredo, sem nossa presença. Na verdade, pouco muda. O nível deles não é nada alto, não temos surpresas a cada jogos.

O bom de antes era a resenha com treinadores. Um bate-papo agradável ou não e que acrescentou muito a minha geração de jornalistas. Um privilégio conversar com Telê, Pepe, Cilinho, Leão, Nelsinho… Uma vez, na Portuguesa, Cilinho havia reunido os jogadores em círculo e feito um preleção. Após o treino, mandou que todos os jogadores se reunissem novamente, no mesmo local de origem. "Estou fazendo isso por causa do colega de vocês, aquele fotógrafo ali, que ficou preso no trânsito e perdeu a chance daquela foto. Ele explicou que ela cabe direitinho na diagramação que fizeram lá no jornal".

Pepe era o rei da resenha. Um conversador de marca maior. Escreveu um livro contando muitas histórias do tempo do Santos multicampeão. Mengálvio, que mando um telegrama para a mulher, dizendo que "chego terça-feira, dez de manhã, de surpresa" e muitas outras. Contou que uma vez, como treinador do Santos, em uma excursão à Europa, chamou Pitico, que estava na reserva. "Esta vendo aquele cara lá? Está matando o nosso time. Você vai grudar nele e não deixa dar um passo. Além disso, dá uma força para a defesa, que está complicada. Você fica perto do volante e também cobre os laterais. Quando recuperar a bola, faz um lançamento longo para o contra-ataque. Entendeu, Pitico?". "Entendi, seu Pepe, mas dá para fazer tudo isso com o meu salário de 3 mil por mês?"

Um dia, também na Portuguesa, Pepe terminou o treinamento e o campo foi invadido por nós.

Qual o time, seu Pepe?

O time está definido. É o mesmo do jogo anterior. Estou com uma dúvida no meio, entre o Fulano (não me recordo o nome) e o Miltinho, um garoto da base.

E por que a dúvida, seu Pepe?

Na verdade, o Miltinho está treinando melhor, mas o outro é mais experiente. Mas eu não sei se o Miltinho tem cabeça boa para estrear logo em um clássico.

Então, fica a dúvida até a hora do jogo?

Não, o jogador precisa saber se vai entrar. Vou resolver isso já. Espera um pouco. Miltinhooooo, vem cá.

E lá veio Miltinho, cabeça baixa, muito tímido.

Está preparado para jogar?

Estou, seu Pepe.

Não vai tremer?

Não vou, não senhor?

Certeza, Miltinho?

Certeza, seu Pepe.

Então, está escalado. Pode ir.

Miltinho saiu correndo, feliz da vida. Nós também, que pudemos dar a escalação correta para os leitores.

Hoje, Miltinho seria a surpresa do jogo. Ninguém saberia de sua escalação. Mas, mudaria alguma coisa?

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.