Muitos milhões e uma calça vinho. E a ciência? O conhecimento?
Ajoelhado, com a calça vinho, Cuca espera pela cobrança de tiros da marca penal que decidirão o futuro do Palmeiras na Libertadores. O divino e o profano juntos, religião e superstição unidos para fazer o que os milhões e milhões não conseguiram. O centroavante de 10 milhões de dólares, uma gentil oferta de dona Leila não foi levado em conta. Felipe Melo, o comandante que comandou ele mesmo – e só – foi afastado. Prass, o ídolo está abraçado com os companheiros, só na torcida. O gol é de Jaílson.
E Cuca, o comandante, o homem que veio para salvar, o homem que teve tudo nas mãos, que decidiu o que quis, sem prestar contas a ninguém? Está ali, prostrado, olhos no infinito. Deus vai salvar? Algum santo de predileção? A calça vinho. Tudo junto, deve ter pensado Cuca quando aqueles 4 x 2 a favor do Barcelona se transforaram em 4 x 4.
Então, veio Egídio. O contestado. A prova viva de um dinheiro mal gasto. Barrios custou caro, não serviu. Foi embora. Borja custou caro, não serviu, está encostado. Deyerson custou caro e está jogando. E dinheiro para um bom lateral esquerdo. E direito?
Egídio, o contestado, o pressionado, errou. E Cuca explicou que outros não quiseram bater. Não se sentiram bem.
Mas, pode? Pode não se sentir bem?
Olha, eu não tenho religião. E não tenho nada contra quem tem.
Olha, eu não tenho dinheiro. E não tenho nada contra quem tem.
Mas, um projeto milionário não pode ficar dependendo da crença de cada um. E do dinheiro mal gasto. Não é possível que excelência e ciência fiquem de fora. Os pênaltis devem ser treinados durante a semana, de acordo com a qualidade dos jogadores e do estilo do goleiro adversário. Não pode ser escolhido na hora.
E até quando os clubes brasileiros e seus treinadores milionários vão sofrer com equipes modestas bem montadas e bem treinadas. Impressionante como o Jorge Wilstermann soube sair do sufoco do Galo, com bom posicionamento, bons passes, triangulações na defesa e poucas faltas. O Barcelona, que eliminou o Palmeiras, havia vencido o Botafogo, no Rio.
As tais duas linhas de quatro são um martírio para nossos professores, suas crenças, suas mandingas, suas calças preferidas, suas cuecas da sorte.
Será possível que o dinheiro não venha acompanhado de ciência e do conhecimento? Religiosidade pode continuar, mas dá para ter os dois? Acho imprescindível.
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