Bandeira e Pereira se comportam como torcedores organizados
Imaginem o seguinte diálogo imaginário entre Bandeira de Melo, presidente do Flamengo, e Carlos Eduardo Pereira, presidente do Botafogo. A ordem pode ser trocada, com pequenas adaptações.
Bom dia presidente, aqui é o Bandeira.
Bom dia presidente, a que devo a honra?
Olha, acho que essa ligação deveria ter sido feita há um bom tempo. O clima dos jogos entre Flamengo e Botafogo está muito ruim. Já houve até morte…
Desculpe interromper, apenas para dizer que concordo sim. As coisas estão passando dos limites.
Pois é. Temos um jogo agora, no Engenhão. Jogo decisivo. Eu gostaria de torcidas divididas, mas já não é possível. Então gostaria de traçar um esquema com o senhor de que os meus torcedores serão bem tratados aí. E dar minha palavra que haverá reciprocidade no jogo da volta.
Ótima ideia. Vou facilitar a entrada de todos os que vierem. Haverá um policiamento especial para garantir a segurança deles. E vou pedir à torcida do Botafogo que respeite todo mundo que vier.
Isso, ótimo. O senhor disponibiliza os ingressos à venda com uma boa antecipação. E, no segundo jogo, cobrarei ingressos no mesmo valor para as duas torcidas. E vocês terão toda a segurança possível. E também vou conscientizar minha torcida sobre urbanidade. A gente poderia ver o jogo juntos, no mesmo camarote.
Concordo com tudo, menos em ver o jogo juntos. Cada um tem sua mania, é melhor sofrer sozinho ou vibrar sozinho, sem se sentir tolhido.
Ótimo. Combinado. Vamos ver se a gente consegue trazer o Eurico e o Abad também.
É difícil? No dia a dia, no cotidiano, não são pessoas capazes de travar um diálogo civilizado em situações de estresse, como uma batida de carro, um financiamento bancário, as tratativas de um divórcio, na gravidez inesperada de uma filha adolescente, na conversa com a funerária para tratar do enterro de pai ou mãe?
No futebol, não. Comportam-se como pessoas sem nenhuma preocupação com o bem estar, com a cidade, com a população, com a saúde dos torcedores.
Dos torcedores do rival e dos seus também.
Sim, porque o presidente do Botafogo, ao dificultar a entrada de rubro-negros no Nilton Santos, estão dificultando a vida de torcedores do Botafogo no jogo seguinte. Ele, não. Ele vai com seguranças e fica em camarote. O mesmo vale para Bandeira de Melo. Ao colocar preços altos para os botafoguenses no segundo jogo, ele coloca sua torcida sujeita à sanha da torcida rival no primeiro jogo.
É difícil esperar alguma coisa de bom no futebol brasileiro quando se nota que os presidentes dos clubes têm no uso correto da concordância verbal e nominal a única diferença para brasileiros pobres e explorados, que têm no futebol o único para alegrar um pouco a vida.
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