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Menon

Por que não chutamos mais? E não driblamos? Pelo menos, ainda tem Boldrin

Menon

21/08/2017 16h00

Rolando Boldrin no programa Sr. Brasil, da TV Cultura, em São Paulo (SP). 2006. Foto: Pierre Yves Refalo/Divulgação.
Atenção: Uso exclusivo para divulgação do programa Sr. Brasil ou para ilustrar matéria jornalística sobre o trabalho do Rolando Boldrin. Para qualquer outra utilização favor entrar em contato com a produção do artista. (boldrin@rolandoboldrin.com.br)

Descobri um tesouro na televisão. Ou,  melhor, redescobri. Rolando Boldrin e o Sr. Brasil, na TV Cultura. Um bálsamo na televisão aberta, um programa simples, cheio de causos e boa música caipira. Viola sem universidade. Fiquei me perguntando, como pude perder tanto tempo sem ver o programa. Acho que era medo de zapear na Cultura e dar de cara com o Villa ou o Nunes.

É ruim quando perdemos contato com nosso passado. O que fomos um dia, somos para sempre. E ouvir, lá no Boldrin, gente como Renato Teixeira e Maria Odette (Boa palavra, rapaz, é assim que um homem faz) é inigualável. Como inigualável é nossa capacidade de produzir sinapses.

Vendo o Boldrin, fiquei pensando nesses valores que deixamos na poeira e…pimba, sou surpreendido com uma observação do amigo Nelson Nunes, grande jornalista. Ele está impressionado como os chutes brasileiros não chutam a gol. Exemplifica dizendo que em um jogo do campeonato inglês, um time pequeno chuta a gol, mesmo que dominado o jogo todo. Aqui, no Brasil, acrescento, tem jogo em que o time grande domina o jogo e não chuta a gol.

E, do Nelson, o pensamento voou até Pablo Martinez Carignano (primeira foto) e Sergio Ferraro (com o filho), dois amigos argentinos que conheci durante as andanças para cobrir sucessivas edições da Copa América.

"!Como pateán los brasileros, Luis. Como pateán"

Eles falavam assim, admirados de nossa qualidade de chutar de fora da área. A lembrança vinha de Nelinho, de Rivellino e dos mais recentes, como Neto, Rivaldo e outros. As conversas eram no anos 90. Além dos chutes de fora da área, a lembrança era também das cobranças de falta de Zico e tantos outros.

E é verdade. Por que não chutamos mais de fora da área? Por que não fazemos mais gols em cobranças de falta? E, minha contribuição, por que não driblamos mais.

O drible nunca se concretiza. Ele não é pensado para ser o início de um cruzamento e sim para ser a prévia de uma queda anunciada. O cara dribla para cair, para fingir pênalti.

Saudade imensa desse futebol. Saudade imensa dos amigos argentinos. Trabalhamos juntos em um sitio Todogol, que teve também a presença de Luis Augusto Monaco, hoje no www.chuteirafc.com.br , espetacular. Guto não gosta de Boldrin, prefere Jethro Tull, assim como Maurício Noriega gosta de Phil Collins e Elis. Dos meus amigos, só o Marcelo Laguna gosta de MPB  principalmente do pessoal que ele acompanhou no nascimento, como o famoso trio Pixinguinha, Donga e João da Baiana.

Hoje, Pablo, que é Independiente, tornou-se advogado e grande especialista em segurança viária. E Ferraro foi meu chefe em um trabalho online com ingleses e indianos.

Amigos eternos. Desde um tempo em que patear era algo inerente ao bom futebol brasileiro.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.