Topo

Menon

Oscar, Marcel, eu, você e todos nós derrotamos o Império.

Menon

23/08/2017 14h55

A casa estava cheia naquele domingo, há exatos 30 anos. Bem, a casa estava cheia todos os dias. A casa era cheia. E às vezes, em época de campanha eleitoral, ficava mais cheia ainda. Nas festas, também. Naquele dia, estávamos eu, o Carlão, Cristiano, Bia, Valtinho, Pangola, o irmão do Valtinho, o Sueco, o Mineiro, outro irmão do Valtinho, o Cavuco, o Simão, mais um irmão do Valtinho (como tinha irmãos o Valtinho) e…mais um monte de gente.

Tinha acabado o almoço e estava aquela conversa toda. Assunto de um lado e de outro. Assunto era o que não faltava. De agulha a avião. Então, o Carlão, largado em um sofá, disse:

Não sei se interessa, mas o Brasil está encostando neles.

Eles, os EUA. Decisão do basquete masculino no Pan. Lá na casa deles.

Bem, a possibilidade de dar um calor neles, trouxe todo mundo para frente da televisão.

E começou a catarse.

Cada cesta de três de Oscar era um festa. E foram pelo menos 25, só que eu vi.

E cada cesta de três de Marcel era uma bagunça. Eu vi 18. E você? Não viu? Azar seu.

E cada passe do Guerrinha…E cada…

Encostou, encostou e…passou.

Passamos. A casa não caiu por pouco. Gritos, abraços, beijos.

Cala a boca, que ainda tem jogo, não adianta comemorar que dá azar, berrou o Carlão.

Gente do céu, com quantos pontos acaba o jogo?, perguntou o Cristiano, que não é muito de esporte.

E acabou. A ca bou. 120 x 115. O Brasil ganhou com 13 bolas de três. Oscar fez 35 pontos no segundo tempo.Marcel? Apenas 20. Juntos, fizeram 55 dos 66 pontos marcados pelo Brasil, fundamentais para tirar a vantagem, que era de 14 no intervalo e que chegou a 20.

E a gente gritou:

ei, ei, ei, fuck you USA

Abaixo o Imperialismo

Viva o Brasil.

Viva o Brasil. Aquela vitória uniu a nação.

Em maio do ano seguinte, a seleção se reapresentou. E foi meu teste para entrar no jornalismo. Fui até a USP, entrevistei alguns deles e mandei o texto para o Popular da Tarde. Fui para casa e esperei por um telefonema. Quando ele veio, a matéria já estava publicada. E, aos 34 anos, pisei pela primeira vez em uma redação. Então, a culpa é de Oscar (46 pontos), Marcel (31), Israel (12), Gérson (12), Guerrinha (2), Cadum (8), Paulinho Villas Boas (7), Pipoca (2) e Rolando.

A campanha e a delegação brasileira:

Campanha do Brasil 
Brasil 110 x 79 Uruguai
Brasil 100 x 99 Porto Rico
Brasil 103 x 98 Ilhas Virgens
Brasil 88 x 91 Canadá
Brasil 131 x 84 Venezuela
Brasil 137 x 116 México
Brasil 120 x 115 Estados Unidos

Delegação do Brasil 
André Ernesto Stoffel (11pts), Gerson Victalino (62), Israel Machado Campello Andrade (78), João José Vianna "Pipoka" (23), Jorge Guerra "Guerrinha (55), Marcel Ramon Ponikwar de Souza (187), Maury Ponikwar de Souza (12), Oscar Daniel Bezerra Schmidt (249), Paulo Villas Boas de Almeida (47), Ricardo Cardoso Guimarães "Cadum" (47), Rolando Ferreira Junior (12) e Sílvio Malvezi (6). Técnico: Ary Ventura Vidal. Assistente Técnico: José Medalha.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.