Liverpool ensina ética a Philippe Coutinho
O fim de janela de transferências no futebol europeu frustrou muita gente. Aqui, o Brasil, e em vários países do mundo, caíram por terra as análises de como Philippe Coutinho se encaixaria no time do Barcelona. Em qual posição do campo iria melhor? Seria simplesmente o substituto de Neymar no tridente com Messi e Suárez, ou jogaria mais atrás? Formaria um quarteto com Suáraez, Messi e Dembelê? Seria uma dupla com Iniesta?
Os campinhos virtuais fervilharam. Natural, afinal essa é uma das brincadeiras mais gostosas para quem gosta de futebol. Somos treinadores e gerentes ao mesmo tempo. Gastamos dinheiro que não temos e montamos times que nunca perdem. No papel. Ou na tela dos nossos computadores.
E havia todo motivo do mundo para exercer nossa criatividade com Coutinho no Barça. Afinal: 1) o Barça é rico 2) o Barça ficou muito mais rico com a saída de Neymar 3) o Barça queria Coutinho 4) Coutinho queria o Barça 5) Coutinho fez pressão para sair.
Tudo resolvido. Como disse Ronaldo Fenômeno, jogador quando quer sair, sai. Ninguém segura.
Mas a equação esqueceu do Liverpool. E de que havia um contrato assinado. E que o Liverpool poderia fazer valer seus direitos.
Poderia, mas ninguém faz isso. Vai ficar com jogador descontente? Vai deixar de vender agora, aproveitando o absurdo aquecimento do mercado em virtude da saída de Neymar? Vai perder a chance?
Vai. Vai. Vai. Foi.
Não queremos vender e ponto. E caberá a Coutinho cumprir o seu contrato.
O que, significa simplesmente, fazer valer o que assinou. Mostrar que sua assinatura tem valor. Antigamente, dizia-se do valor da palavra, do fio do bigode, agora o Liverpool exigiu apenas que ele cumprisse o que assinou. E pelo que é muito bem pago.
É impressionante como jogador de futebol e seus empresários não respeitam o clube. O roteiro é sempre o mesmo. Surgem informações de interesse de outro time pelo craque e ele responde assim:
Para mim, não chegou nada.
Deixo essas coisas com meu empresário.
Meu foco é aqui no Cantareira.
Só penso em (aqui há muitas possibilidades) a) levar o Cantareira de volta de onde nunca deveria ter saído b) tirar o Cantareira dessa situação que não merece c) conseguir levar o Cantareira para a Libertadores d) ganhar esse título.
Enquanto isso, o empresário atua em outra frente. Tenta colocar o jogador em outro time. Faz pressão com a proximidade do fim das janelas de transferência. E, se nada der certo, vai a público e diz:
Cristiano Alberto mostrou seu amor pelo Cantareira e merece ser valorizado.
Merece ser valorizado = Merece um aumento.
Fácil, não é?
Eu me lembro do goleiro Felipe, quando queria sair do Corinthians. Andrés Sanchez, o presidente de então, disse que estava tudo bem, desde que ele devolvesse as luvas que havia recebido.
Luvas é um bônus que o jogador assina ao receber contrato. Assinou por cinco anos e vai ganhar R$ 100 mil por mês. E recebe R$ 1 milhão no dia da assinatura do contrato. Assinou por três anos, recebe R$ 1 milhão. Vai sair após um ano e meio, devolve R$ 500 mil, certo? Ou então, o jogador assina contrato, recebe um bônus e um mês depois pede para sair.
Felipe não entendeu. E disse que o jogador sempre é o lado mais fraco da história. Felipe, para quem não lembra, é aquele goleiro que se recusou a pular em um pênalti contra o Corinthians, em Campinas, em 2009.
Ao contrário do que disse Felipe, o clube é o lado mais frágil nas relações trabalhistas, quando tem de enfrentar, ao mesmo tempo, outro clube, o jogador e o empresário.
Parabéns ao Liverpool, que subverteu essa regra e mostrou seu valor.
Você pode ler um belo texto sobre esse assunto. É de Giovani Martinelli em
https:/gestaofc.blogspot.com.br
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