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Menon

Palmeiras e a conversão de Maria e José

Menon

11/09/2017 10h34

Antonio César Simão, o Turco Tote, é meu amigo há 40 anos. Desde quando eu entrei na Engenharia de Lins e ele já lá estava, balançando a pança e comandando a massa. Era nosso comandante na Atlética e na luta contra a Ditadura. Ele tinha dois amores secretos: pela Deise (não era tão secreto assim, afinal todo mundo sabia, menos ela, bem, acho que ela sabia também) e pelo Palmeiras. Não era o mais assíduo nas discussões futebolísticas, como o Mauro Achilles e o Moacyr, engenheiro Pinduca.

Uma digressão: você me acham chato, mas eu tenho amigo das três faculdades, do colegial, do ginásio, do primário e do Jardim de Infância, sem contar o Tiro de Guerra.

Bem, voltando ao Simão. Falando em futebol, a gente fez o meio de campo e ele conquistou a Deise. E se tornou fanático pelo Palmeiras. E passou o amor verde aos filhos, Maria e José. Maria, por conta da música de Milton Nascimento e José, pela tradição árabe de colocar no filho o nome do avô. José Fernando, José Guilherme, José Carlos, todos Simão. E o José, que é só José. Nada a ver com religião, que, na família, é mais para a Deise.

A família vai constantemente ao estádio. Contra o Barcelona, foram o pai e os filhos. Expectativa, esperança, êxtase e apreensão se seguiram. Até que chegou a hora dos pênaltis. Simão, muito confiante e comunicativo, como sempre, estava fazendo novos amigos e contando como o Palmeiras venceria. Quem faria os gols – todos, é lógico – e quantos seriam defendidos. Comandava a massa que estava acima dele e não viu mais os filhos. Aí, foi avisado que ia começar a decisão. Virou-se para o campo, sentou-se na sua cadeira e…não viu nem Maria e nem José.

O susto durou um mínimo segundo. Ou fração ele. Foi quando viu Maria e José, ajoelhados, de mãos dadas, tentando balbuciar uma Ave Maria ou outra reza qualquer, escondida no desvão da memória, arrancada de algum cantinho do cérebro, lembrança das aulas de Catecismo. Maria e José, convertidos.

Não é só futebol.

Hoje, a família está na torcida pela recuperação de Dona Irene, mãe da Deise e mulher do Lalô, o sogro que pensa igual ao Simão em tudo.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.