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Helinho: "eu me preparo para dirigir a seleção brasileira"

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16/09/2017 06h23

Hélio Rubens Garcia Filho, aos 42 anos, mantém a tradição que vem do avô (Chico Cachoeira) e passou pelo pai (Hélio Rubens) e tios (Fransérgio e Totó) e se dedica ao basquete de Franca. Depois de uma carreira vitoriosa como jogador, é o treinado do time, desde o NBB do ano passado. E o trabalho mostra resultados espetaculares. No primeiro turno do NBB foram sete vitórias e sete derrotas. No segundo turno, 12 vitórias e duas derrotas. Ficou em terceiro lugar e foi eliminado nas quartas-de-final. Houve decepção, mas o trabalho continuou. E agora, no campeonato paulista, o time, reforçado por Léo Meindl, Rafael Mineiro, Jefferson William e Gruber, está invicto, com nove vitórias. "Eu me preparo para dirigir a seleção brasileira. É um sonho e seria um orgulho", disse Helinho em entrevista ao blog.

Você esperava essa série invicta logo no início do Paulista?

Sinceramente, não. O campeonato é difícil e tem cinco candidatos ao título: Franca, Bauru, Mogi, Paulistano e Pinheiros. Então, é muito difícil terminar sem derrotas. Mas nosso trabalho está sendo muito bem feito e queremos ganhar o campeonato.

Como está sendo o trabalho?

Bem, a gente tinha um legado do ano passado e trouxemos mais alguns jogadores. O time está mais competitivo e com muita garra. Os jogadores estão entendendo muito bem o que significa jogar por Franca. Nossa cidade é uma referência e a cobrança é muito grande, assim como o incentivo. Por isso é importante ter muito companheirismo e cumplicidade entre jogadores e comissão técnica.

Na montagem do time para o Paulista, saíram alguns jogadores e vieram outros. Um dos que saíram foi o Dedé, seu cunhado. Foi difícil a separação?

Já no ano passado, conversamos sobre isso, com sinceridade. Como era meu primeiro ano, talvez fosse uma carga muito grande dirigir uma pessoa do meu círculo familiar. Mas o time dele acabou e o Isaac se contundiu. Então, ele veio e trabalhamos muito bem. Agora, ele teve oferta do Vasco, que é um grande time, e resolveu sair.

Se o Lucas Mariano viesse para Franca, ele impediria a ascensão do João Pedro?

Não acho, não. O Lucas é ótimo e o João Pedro está melhorando muito, principalmente no setor defensivo, que era uma dificuldade dele. Ele está ganhando confiança, tem correspondido e a ascensão dele não seria brecada, não.

O Sesi não permite a contratação de estrangeiros?

Não há nenhuma cláusula nesse sentido, mas a gente prefere buscar jogadores brasileiros no mercado. E dar preferência também ao nosso trabalho de base, que tem muitos jogadores bons.

Quais são eles?

Nosso elenco está com 16 jogadores e estamos fazendo revezamento no banco. Mas tem muita gente boa aí. O Marcos Louzada, que é conhecido como Didi, é um lateral muito bom. Um jogador de muita força ofensiva e defensiva também. Marca muito forte. Também temos o Guilherme Abreu, o Júnior, dois do sub-19, e o Cassiano. Geração boa. Nem pensamos em mudar o time para o NBB.

Como você viu o Brasil na Copa América? O time não conseguiu uma das sete vagas para o Pan de Lima em 2019.

Fiquei muito triste, mas temos de ter claro que a transição está começando. Temos jogadores do meio para o final da carreira e temos gente nova começando. É preciso ter empenho e dedicação para essa nova fase.

Mas ficar fora do Pan é um castigo para uma geração, não é?

Sim, porque atrapalha o intercâmbio. O fundamental para o momento atual do basquete brasileiro é ter intercâmbio. A seleção principal e as seleções de base, sub-18 e sub-20, precisam fazer pelo menos 12 jogos por ano contra seleções europeias, de preferência na Europa. Isso é fundamental.

E ainda há a possibilidade de a seleção não se classificar para o Mundial. Nesse caso, o Brasil deveria ser sparring de seleções fortes, como Sérvia, Espanha..?

Mas eu não vejo o Brasil fora, não. Temos chances e vamos buscar a vaga. Eu acho que a seleção deveria ter uma mescla, como meu pai fez no Mundial de 2002. Levou seis veteranos e seis novos que estão brilhando até hoje: Splitter, Varejão, Leandrinho, Giovanonni, Alex  e Nenê. Esse é o caminho. Mas, se não der, volto a dizer, que é importantíssimo o intercâmbio. Pelo menos 12, quem sabe 16 jogos por ano contra seleções europeias.

O que você achou da atitude do Bruno Caboclo, que se recusou a entrar em quadra quando o treinador pediu?

Achei inaceitável. Uma atitude que merece punição exemplar. E a punição deve ser seguida de aconselhamento. É um menino humilde, que nunca jogou no Brasil, apenas em categorias de base e que já foi para a NBA. Precisa entender que a seleção e importante.

O que tem impressionado você no Eurobasket?

Individualmente falando, o Luka Doncic, da Eslovênia. Ele tem 18 anos, joga no Real Madrid e vai para a NBA. É um fenômeno. E, taticamente, vemos a tendencia do basquete moderno, com muita velocidade e jogadores exercendo mais de uma função em quadra. E o sistema coletivo permitindo as individualidades.

Falam muito na extinção do pivô 5, mais forte e mais parado, a partir do sucesso do Golden State Warriors, que arremessa muito. O Oscar chega a dizer que o GSW joga como a seleção de 87. Você concorda?

Não acho que o pivô 5 será extinto, mas é evidente que a tendência do basquete é, como eu disse, ter jogadores fazendo mais de uma função. Não tem mais o cara que carrega a bola, o cara que arremessa e o cara que pega rebote. Todo mundo vai ter de saber driblar, arremessar, passar, defender muito bem. E com velocidade. Todo mundo vai no rebote, todo mundo arremessa.

Você tinha um aproveitamento de lance livres que chegava a 90%. Na Copa América, o aproveitamento do Brasil foi de 50%. Os treinadores precisam colocar os jogadores para arremessar nos treinamentos?

Não. O jogador precisa saber que tem de melhorar o arremesso e treinar sozinho. Ninguém ensinou o Oscar. Aqui em Franca, o Demétrius, o Rogério e eu arremessávamos 600 bolas por dia. São 18 mil arremessos por mês. Melhora ou não? Nosso treinamento é de duas horas de manhã e duas horas à tarde. Eu oriento para chegarem antes ou ficarem depois e treinarem os lances livres. O aperfeiçoamento virá automaticamente.

Você pretende dirigir a seleção brasileira?

Sim. Todo grande profissional sonha com isso e eu também. Foi um orgulho como jogador e será também como treinador. Eu sou bacharel em Educação Física, joguei muitos anos, faço clínicas, estudo muito, vejo jogos, procuro soluções na internet, converso com outros treinadores. Estou me preparando sim.

 

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.