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Menon

Robinho e a bailarina do Lago dos Cisnes

Menon

21/10/2017 09h29

As câmeras de televisão mostraram um Robinho raivoso questionando o anônimo jogador da Chapecoense. "Jogou onde, jogou onde"? Arrogante Robinho, tentando dar uma carteirada, lembrando de seu passado que não foi tão glorioso como previsto. Não entregou o que se esperava, como diz o novo clichê do jornalismo esportivo, tratando jogador como se fosse carteiro.

Eu me lembrei de uma história contada pelo amigo Alexandre Simões e que foi contada a ele por Nelinho. Bem, quem conta um conto aumenta um ponto, mas aí vai…

Nelinho, em fim de carreira, pelo Galo, foi fazer um jogo no interior de Minas. No primeiro lance, foi marcar um ponta arisco (clichê antigo, de quando existiam pontas), que lhe deu um drible e saiu fácil. Nelinho correu atrás, fez a falta e deu a carteirada:

"Tá pensando o que, rapaz. Eu sou o Nelinho, joguei duas Copas do Mundo".

"E perdeu as duas, velhinho e agora corre atrás de mim".

Foi o prenúncio da aposentadoria de Nelinho.

Robinho poderia receber uma resposta assim. "Não jogou nada no Real e está enganando no Galo".

Ou, então, a clássica resposta que mostra a cordialidade brasileira.

"Joguei onde? Pergunta para sua mãe que ela sabe".

A arrogância seria combatida pela ironia ou pela grossura. Depende do momento.

E tudo ficaria aí. O futebol é uma ópera violenta, tem seus códigos próprios. O que se fala ali não se fala longe dali. Logicamente, não defendo o vale tudo. Ofensas racistas devem ser punidas sejam feitas no gramado ou no papado. Homofobia idem. Caso contrário, se um jogador desse um tiro no rival, diríamos que é futebol e que o que se faz no campo, fica no campo…

A questão é que o jogador de futebol fica exposto a muitas câmeras de televisão. E é transformado em um show, rompendo seus códigos. Imaginem se um jogador diz algo agradável a outro, do tipo eu já comi a sua mãe e as câmeras pegam o áudio. Poderia ser vítima das patrulhas morais brasileiras que estão obrigando museus a colocarem tarjas em obras de gênios como Toulouse Latrec? Algo do tipo: fala um palavrão assim, sabendo que tem criança em casa, na frente da televisão.

Outros profissionais não sofrem com a televisão. Imaginem uma cena do Lago dos Cisnes… A bailarina principal faz tudo o que tem de fazer, com seu acompanhante, no mais alto nível. Será que se a câmera de televisão der um close em alguma outra bailarina, no palco ou fora dele, não ouviria algo do tipo? "Essa piranha pegou meu lugar, mas quem sai com o marido dela sou eu".

De perto, ninguém é normal. Ainda mais com uma câmera de televisão a desvendar os segredos de nosso caráter ou da falta dele.

E a maior resposta a Robinho seria mesmo três dedos levantados, mostrando o placar de 3 a 2. Ou, um dedo só.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.