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Kaká foi ótimo nas quatro linhas e omisso fora delas

Menon

18/12/2017 08h45

Kaká foi um grande jogador. Triste usar o passado para um jogador que entrevistei quando se preparava para a Copa São Paulo de 2000. Aí, era todo futuro. Já era uma das grandes revelações do clube e estava na reserva, por conta de um prosaico acidente em um tobogã aquático nas férias anteriores. Por pouco não ficou paraplégico. Por isto, e só por isto, era reserva de Harison. Por isto, foi chamado para o banco do time principal. E por seu imenso talento, chegou resolvendo, com dois gols contra o Botafogo.

Fez uma carreira muito boa no São Paulo, com 48 gols em 131 jogos. Mesmo assim, não escapou da sanha imbecil de torcedores, que o chamavam, juntamente com Luís Fabiano, de pipoca. Uma bobagem sem fim. Se o time não ganhava, culpa deles não era. E nunca foram de afinar. Mesmo porque eram muito forte. Em 2002, o São Paulo, que havia dominado o Brasileiro, foi eliminado na primeira fase do mata-mata pelo Santos. No primeiro jogo, na Vila, foi 3 x 1 para o Santos, que sai na frente, com Alberto. No final do primeiro tempo, Kaká escapou pela esquerda e foi perseguido pelo tosco Paulo Almeida, jogado metido a valentão. Correram lado a lado por alguns metros, mas o jogo de corpo de Kaká, ombro no ombro, deixou Paulo Almeida para trás.

Foi uma jogada típica de "trequartista", como falam na Itália. O jogador que atua no último quarto do campo. Recua, ganha ou recebe a bola e avança com ela. Um ponta de lança, como se dizia antigamente. Foi assim que Kaká se tornou o melhor do mundo. Com força, velocidade, domínio de bola e grande precisão na hora de definir. Terminou a carreira com 755 jogos e 240 gols. Um em cada três jogos. Muito bom. Na seleção, a média se manteve. Foram 31 gols em 95 jogos.

Com justiça, foi eleito o melhor do mundo em 2007. O último vencedor antes de os supercraques Messi e Cristiano Ronaldo tomarem conta do futebol mundial. Kaká pertence à categoria dos que estiveram bem, foram o melhor naquele ano, mas nunca houve a "era Kaká", como houve Di Stefano, Pelé e Maradona. E agora, Crisitano e Messi. Ele "esteve" o melhor do mundo em uma temporada, não "foi" o melhor do mundo.

Kaká, dentro de campo, foi indiscutível.

Fora dele, é um dos que chamo de "falso brilhante". O chamado jogador diferenciado, por se expressar bem, por falar com facilidade e por tratar bem a jornalistas. Mas o que ele tem de diferenciado, mesmo? Nunca se posicionou sobre nada. Já maduro, depois de tantos anos na Europa, voltou ao São Paulo em 2014. Vivia-se a época do Bom Senso, que buscava, acertando ou errando, soluções para o futebol brasileiro. E ele não se posicionou, não disse nada, não colaborou.

Na seleção, juntamento com Lúcio, foi o artífice de uma época de religiosidade extrema. Os jogadores passavam a impressão de que estavam em campo não para honrar o futebol brasileiro e sim para honrar o seu Deus. É uma opção ruim, não dá resultados.

Eu me lembro de apenas duas atitudes afirmativas de Kaká: quando decidiu deixar o São Paulo, após sofrer com agressões de imbecis e quando deixou a igreja do bispo Hernandes, quando o charlatão foi preso, nos EUA, por entrar no país com uma quantia de dolares proibida. Estava escondida dentro de uma Bíblia.

Agora, Kaká diz que vai estudar para ser dirigente. É um grande avanço, pois eu tinha certeza de que ele seria pastor. Tomara que dê certo, tomara que ele traga algo tão bom para o futebol quanto trouxe quando era jogador. Difícil acreditar, porque nunca se interessou pelo esporte fora das quatro linhas.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.