Copinha pode ser o resgate da miséria

Charge de Paulo Batista
Começa a Copinha. São 128 clubes inscritos, divididos em 32 grupos espalhados pelo estado. Muitos deles são bancados por empresários, sem nenhum compromisso com o futebol, a não ser faturar e faturar e faturar. Por isto, sempre fui contra o inchaço, que tem mais a ver com lucro do que com o aprimoramento técnico da competição.
Mudei de ideia.
Mudei por causa de Valdivia, que disputou a competição há alguns anos. Defendia o Rondonópolis, totalmente desconhecido, do Mato Grosso. Jogou bem e conseguiu uma vaga no Internacional. Foi bem, teve sucesso e agora está no Galo, ainda devendo futebol. O que seria de Valdivia se não fosse a Copinha? Possivelmente ainda estaria em Rondonópolis, sonhando com o futuro que não viria.
É um caso que justifica o inchaço. Mesmo que seja o único. É o pensamento inverso em relação à pena de morte. Se houve apenas uma injustiça, se apenas um inocente perdeu a vida, então já está injustificada a sua existência.
Em um país tão pobre, com tanta injustiça, a bola de 454 gramas pode ser o salvo conduto, a senha para que a miséria fique lá atrás. O garoto tem ali uma chance na vida de atuar em três partidas e chamar a atenção de alguém que lhe dê um contrato. O que acontece depois geralmente é a transformação do garoto pobre em garoto rico. O único que muda é a conta bancária e o estilo de vida. A pobreza dá lugar à ostentação.
A mudança quase nunca vem acompanhada de uma percepção clara do que aconteceu. O sobrevivente tem pouca empatia com o ex-colega que não conseguiu romper a barreira. Muda de lado e não ajuda ninguém. A não ser naqueles jogos de confraternização de final de ano em que se arrecadam toneladas de alimentos. Importante, é lógico, mas seria muito mais bacana se a pessoa entendesse que os que continuaram pobre não têm culpa de nada. A não ser de não terem tido a sorte que ele teve,
A culpa?
A culpa é dos homens que governam o país e que fazem da manutenção da miséria uma fonte enorme de votos.
A Copinha tornou-se menos importante porque a necessidade de suprir, com carne nova, o sistema futebolístico, torna mais rápida a ascensão do garoto. Jovens como Brenner, Paulinho, Lincoln e Vinícius Jr poderiam estar jogando, mas já foram "subidos" para o time principal. Vinícius Jr. já é do Real Madrid.
Mesmo assim, há gente boa a ser vista. Vitão, Alanzinho, Helinho, Igor, Fabrício Oya, Rodrygo e outros que irei descobrir durante a competição.
Para nós, além de trabalho é uma boa diversão. Para eles, muitos deles, é a chance de conseguir trabalho. De trocar o feijão com farinha por uma dieta balanceada, o busão por um carro importado e a namorada atual por alguma loira turbinada. E a mesadinha atual por um grande salário em euros.
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