Topo

Menon

Fernando Diniz ajuda a destruir um mito do futebol moderno

Menon

03/01/2018 10h14

Fernando Diniz é um representante da cartilha do futebol moderno, que tanto fascina jornalistas e torcedores pelo mundo afora: manutenção da posse de bola, proposição de jogo (prefiro a palavra imposição), jogo apoiado, superioridade numérica em setores do campo, velocidade no terço final…. A meu ver, ele exagera na rotação posicional (uau) dos jogadores. Há muita troca de posição, o que ocasiona espaços para os rivais.

Mais do que os conceitos, o que me agrada é a atitude. Ele não se contenta com a retranca, com a postura defensiva. Não aceita jogar por uma bola. Arrisca e muito. Foi vice-campeão com o Audax. E foi rebaixado com o Audax. E o que me desgosta muito em Fernando Diniz é sua postura autoritária e agressiva com jogadores. Grita, ofende e aponta o dedo para quem erra. Dá a nítida impressão de praticar a teoria do "eu acerto e vocês erram".

Ele merece a oportunidade de testar seu estilo de jogo em um time maior. E foi o que fez, ao abandonar o Guarani, com um mês de trabalho, antes mesmo de estrear e correr para o Furacão, onde não terá nenhuma complacência de Mario Celso Petraglia, notório decapitador de treinadores.

A saída de Diniz foi muito ruim para o Guarani, mas havia uma cláusula contratual que previa a liberação em caso de oferta de um clube da Série A. Os dirigentes bugrinos estavam avisados.

E, ao deixar o Guarani na mão, Diniz ataca um ponto crucial no futebol brasileiro: treinador precisa de um ano para trabalhar, treinador não pode ser demitido bla bla bla. É a única profissão no Brasil que não pode correr riscos. É um dogma da seita dos jornalistas modernos. Pode-se demitir médico, jornalista, dentista, cientista, pode-se dar golpe na presidenta. Só não pode demitir treinador. É feio. É atraso. Não é europeu. Se o treinador tiver tempo para trabalhar, tudo vai ser ótimo no Brasil. Mesmo que o trabalho seja péssimo.

A defesa da reserva de emprego para treinadores usa dois argumentos tortos.

O primeiro diz o seguinte: o time tal manteve o treinador e teve ótimos resultados. Não é o contrário? O treinador tal teve ótimos resultados e foi mantido.

Não tem jeito, amigos. Clube grande não pode cair. Os prejuízos são enormes. Se tudo estiver ruim, é necessário trocar. Mesmo se for o Guardiola dirigindo o Flamengo. Ora, faltam dez rodadas e o time está em último. Mas é o Guardiola. Mantemos? Vamos com Guardiola para Lucas do Rio Verde no ano que vem? Vamos, o que interessa é estarmos seguindo a cartilha, não interessa se vamos cair. Parabéns, eu não penso assim.

O segundo argumento torto é que resultado não importa, o que importa é o desempenho. Ora, se um time é superior em todos os conceitos, desde a posse de bola até a velocidade dos gandulas e não consegue fazer gols, é fácil diagnosticar o problema, não? Ou o time está finalizando pouco ou está finalizando mal. Cabe ao treinador consertar. Se não conseguir, tchau. Que venha outro que fça o time vencer, mesmo indo contra os conceitos pré estabelecidos.

Sim, amigos. Há jornalista que só acha bonito o que é espelho. Ele tem os seus conceitos. Se o treinador utilizá-los, ele pode perder. Se não utilizá-los e vencer, sua vitória será mais contestada que a presença da Tiffany no vôlei feminino.

Ao dar um bico, previsto em contrato, no Guarani, Diniz abre a porta para ser chutado do Furacão. Tudo normal. Pau que bate em Chico, bate em Francisco. Assim, teremos o fim da reserva de mercado para professores.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.