Fica, Zé Roberto. Fora, Marcão
Uma lembrança recente, verdadeiro fantasma, atazanou a vida do zagueiro Marcão, da Portuguesa do Rio. Uma lembrança antiga, verdadeiro bálsamo diante do presente tão ruim, se transformou em uma linda homenagem a Zé Roberto, que, aos 43 anos, voltou a defender a sua Portuguesa, que ajudou a levar ao vice-campeonato brasileiro de 1996.
O herói e o vilão se encontraram na primeira rodada da Copa Rubro-Verde, que reuniu Associação Portuguesa de Desportos, Associação Portuguesa Londrinense, Associação Atlética Portuguesa (de Santos) e Associação Atlética Portuguesa (Ilha do Governador, do Rio). O primeiro jogo reuniu as Portuguesas do Rio e do Santos.
E começou a perseguição ao esforçado zagueiro Marcão, da Portuguesa carioca. A bronca vem do ano passado, quando Marcão fazia a dupla de zaga da Portuguesa de Desportos com Gabriel. O time chegou às semifinais da Copa Paulista, mas foi eliminado pela Ferroviária. Era a última chance de conseguir uma vaga para a Série D. Marcão, que estava emprestado, voltou ao Rio, mas, antes, criticou a falta de estrutura da Portuguesa.
Foi o bastante para que virasse a Geni da primeira rodada. O torcedor da Lusa é passional. Ele pode falar mal, mas ah se alguém resolve apontar um defeito de seu time. E foram 90 minutos de vaia. E de apoio à Briosa, de Santos. O jogo terminou 2 x 2 e foi para os pênaltis.
Cleitoooooon, Cleitoooooooon….
O goleiro da Portuguesa Santista nunca teve tanto apoio na vida. Seu nome era gritado a cada cobrança, como forma de apoio. Não adiantou. Os cariocas fizeram os cinco pênaltis e foram para a final. E tome vaia para Marcão, quando se aproximou da saída de campo, rumo ao vestiário.
Será que ele fica?
A pergunta tomava conta da torcida da Lusa, agrupada atrás de um dos gols. Ele é Zé Roberto, uma das grandes revelações da história do clube, jogador que fez sucesso na Alemanha e que jogou duas Copas do Mundo.
Fica, nada. O cara se aposentou no Palmeiras, tem um bom salário e vai jogar a Série A 2. Já pensou se cai a mancha a carreira?
Fica, sim. São só 15 jogos, dá para se acertar com o Palmeiras e ajudar a gente.
Zé teve seu nome gritado no início, durante e no final do jogo. Seu currículo não admite concorrência com os que estavam em campo. Mas não é só isso.
Quem é este zagueiro aí?
Não sei, não. Nome na Portuguesa é difícil.
O diálogo entre dois torcedores é revelador. Nos últimos anos, a cada semestre, sai uma barca do Canindé. E chega outra. Jogadores e jogadores que não impedem rebaixamentos sucessivos. Nos últimos dois anos, o time escapou do rebaixamento para a Serie A-3 na última rodada.
Mesmo assim, a torcida canta, orgulhosa
Luta, Luta,
Pela camisa e pela glória
Hoje, temos de ganhar.
Havia outros gritos. Zé Roberto é da Leões. E a autolouvação dos Leões da Fabulosa, dizendo que dão porrada em gambá, pó de arroz, na porcada, no time da baixada, jurando que já bateu em mais de mil e que já apavorou até no Rio.
A Portuguesa foi bem melhor e venceu por 2 x 0. E a espera da torcida, era por Zé Roberto. Enquanto ele não vinha por conta de uma entrevista para a televisão no meio do campo…vaias para o repórter que ousava segurar o ídolo.
Zé não vinha, mas o zagueiro da Portuguesa Londrinense vinha. Muito magro e com uma cabeleira afro dos anos 70, foi homenageado com direito a nome de jogador belga.
É Felaini, é Felaini, é Felaini;
Felaini abanou a mão e foi tragado pelo túnel.
Zé Roberto veio em seguida, com a mão no coração e depois acenando para os Leões da Fabulosa.
Fica, Zé Roberto, Fica….
Era uma súplica, um desejo imenso de voltar no tempo, quando o craque tinha 21 anos.
Ele fica. Até domingo. Depois, é hora da Lusa caminhar com suas próprias pernas. Com as pernas de marcões.
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