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Menon

Os adoradores de Diniz que me perdoem, mas resultado é fundamental

Menon

06/01/2018 10h48

Enquanto não chega o samba enredo: "Longa vida a Fernando Diniz, o homem que influenciou, antes de nascer, Telê, Cruyff, Michels e o tal do Pep, o homem que cai, mas cai com posse de bola, o gênio da raça, o homem que mudou as relações humanas e que, com um estalar de dedos, trocou Campinas por Curitiba", eu aqui, no meu cantinho, digo, bem baixinho, com medo de ser chamado de ultrapassado, sussurro: Viva o resultado".

Pronto, falei. Doeu mais do que quando eu assumi para mim mesmo algo que tentei esconder por muito tempo: eu A DO RO Roberto Carlos. Gente, foi tão bom, que, em seguida, eu assumi Jerry Adriani, Agnalo Timóteo e Altemar Dutra.

Amigos, eu gosto de ganhar. Eu gosto de ver meu time campeão. Eu não consigo viver sem esta droga chamada resultado. Eu confesso que sinto até uma certa ternura por aquele time que chega sempre em sexto ou sétimo, mas apresenta um bom futebol, talvez, até quem sabe, deixa o tal legado. Muito legal, mas eu prefiro o título.

Admiro os estetas, os parnasianos (a arte pela arte), mas eu troco tudo por um campeonato estoico, com com nenhuma exibição de arte, com mais alívio do que prazer, mas com aquele grito de É CAMPEÃO, ao final do ano.

É lógico que eu gostaria muito que meu time fosse campeão jogando bem, muito bem, otimamente bem. O que não significa seguir as regras pré determinadas do que se determinou ser o bom futebol nestes últimos anos: 1) posse de bola 2) jogo apoiado 3) superioridade numérica no setor 4) pressão alta. É possível jogar bem de outras maneiras, com mais velocidade e menos passes, com jogo mais vertical…

Retomando, eu gostaria de ver meu time campeão jogando bem. Mas eu prefiro ver meu time ser campeão contra o segundo colocado que joga muito bem, mesmo com os iluminados falando em injustiça. Injustiça? Com um campeonato de 38 jogos, 19 em casa e 19 fora? Qual a injustiça? A injustiça, amigos, está no egocentrismo de quem vê o mundo assim: não fez o que penso, está errado. Ganhou, mas ganhou sem jogar do jeito que eu determinei que é o certo, então não vale.

E o Audax? Ah, o Audax caiu, mas teve posse de bola, teve jogo apoiado, teve pep guardiola feelings.

Fernando Diniz é um treinador que foi muito bem no Audax. Levou o time ao segundo lugar do campeonato paulista. Tinha bons jogadores e soube tirar o melhor deles. Na final, foi surpreendido pela postura defensiva de Dorival Jr. e perdeu o título. No ano seguinte, com outros jogadores menos talentosos, manteve o estilo. Só que todo mundo, menos Rogério Ceni, já sabia como o Audax jogava. E Fernando Diniz não soube se reinventar, não soube dar uma trégua à sua genialidade, não soube se adaptar. E foi rebaixado, como rebaixado quase fora com o Oeste na segunda divisão do Brasileiro.

E aos que falam que rendimento é mais importante que resultado, eu faço uma pergunta simples. Fernando Diniz seria incensado como um gênio se o Audax tivesse caído no primeiro ano? Lembram, ele jogou com estilo moderno e foi vice-campeão. No ano seguinte, jogou com estilo moderno e caiu? E se fosse o contrário? Se no primeiro ano, ele tivesse jogado modernamente e caísse? Seria elogiado como é?

Não seria.

Sabe por quê?

Porque o jogo moderno veio acompanhado dele, o resultado.

A Holanda não seria referência se tivesse caído na primeira fase da Copa do Mundo de 74. O falso nove de Guardiola teria sido ridicularizado se não tivesse vindo acompanhado dele, o malvado resultado.

Então, enquanto a modernidade brasileira continuar sendo Fernando Diniz, um pastiche de Guardiola, eu fico com o resultado.

Se aparecer um treinador brasileiro moderno, revolucionário, lançando uma escola nova, eu…vou continuar preferindo títulos. Mas teria por ele o maior respeito. Como tenho por Guardiola, mesmo que ele perca.

Para mim, o resultado será sempre importante, o mais importante de tudo. Aponto o erro, aponto a mediocridade apresentada, mas louvo o título.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.