Topo

Menon

Futebol, paixão Nacional

Menon

18/01/2018 13h02

O futebol é paixão porque gostamos dele quando é bom e quando é ruim. Se a gente gostasse de futebol apenas por causa do Real Madrid, Barcelona e quetais, seríamos admiradores de arte. Educados. Mas, não. Nós somos loucos, briguentos e apaixonados por bola. E o futebol só é paixão porque gostamos dele em qualquer situação. Basta uma bola e dois times para tomarmos partido, nos envolvermos no jogo, gritarmos…. O que mantém o futebol é a paixão e ela está presente, por exemplo, em Nacional x São Bernardo, pela primeira rodada da Série A 2 do Campeonato Paulista.

O DESENVOLVIMENTO DE GUILHERME – Quando o Hino Nacional começa a tocar, Guilherme Brant se agita muito na cadeira de rodas. Vira o rosto para o alto e para a esquerda, buscando contato com Luciana, sua mãe. Ela o incentiva, ele grita e cria-se uma conexão com a mãe, o avô Edison Gallo, vice-presidente do Nacional e com Rosa, a cuidadora.

Guilherme ouve muito o Hino Nacional. Em todos os jogos de futebol que ele vê na televisão. E são muitos. Com paralisia cerebral, o mundo da bola passou a ser parte de seu mundo. "Através do futebol, ele começou a criar conexões com a gente", conta Camila. Um exemplo: A Rosa, cuidadora, torce para o Cruzeiro, que é azul. Então, o Cruzeiro virou "ARRÓ" (A ROsa), o azul é "ARRÓ" e a Rosa, lógico, é ARRÓ.

O São Paulo é AÕ, então o vermelho também é ÃO. E a bandeira do São Paulo é ÃO.

Quando um goleiro defende, ele grita UAU. E todo goleiro é UAU.

Guilherme ama o futebol. Torce para o Corinthians, mas já torceu para Palmeiras, Vasco, Botafogo e São Paulo. E não perde jogo do Nacional. Outras conexões virão em breve.

A TORCIDA QUE CABE EM MEIA KOMBI – A Almanac foi fundada em 1984 por Cláudio Aguiar. Tem 34 anos de vida, mas não de forma contínua. "Nós eramos 12, foi crescendo, chegou até 30, mas depois o pessoal foi se afastando, mudaram de bairro, casaram e eu fiquei sozinho. Em 2002, a torcida parou, mas voltou em 2010, quando a molecada aí começou a se interessar".

O nome é lindo, não. Alma e Nac (de Nacional Atlético Clube) unidos. Tem 21 nomes registrados na Federação Paulista e em média 12 no campo, a cada jogo. Na estreia, porém eram apenas cinco. Alessandro, Rafael, Canhoto, Cláudio e Bruno. Faziam um barulho enorme, dentro do possível. Na saída do primeiro tempo, enquanto começa a pequena entrevista, Alessandro pede licença e vai far com o juiz. "Seu filho da puta, arrombado, safado, como é que você dá um pênalti daquele". De volta, confessa. "Foi muito pênalti, mas o bom é xingar o juiz, qualquer um".

Todos têm outro time, é lógico e a paixão pelo Nacional não tem a ver, por exemplo, com os torcedores do Juventus, que exaltam a Mooca. "Nem dá para ser assim, a gente não sabe se é da Lapa, Água Branca ou Barra Funda. A gente gosta porque gosta, porque é sócio e resolveu torcer", diz Rafael. E como se busca notícias do clube, dispensas contratações, porque, afinal, o Nacional não está na pauta da grande mídia? O jeito é buscar uma informação direta. "Temos um amigo que é próximo da diretora e ele conta para gente as novidades".

Em jogos fora de casa, sempre há pelo menos um representante da Almanac. Quando são cinco, vão em um carro. "Quando fomos para Olímpia, alugamos um carro e mandamos ver. Teve pedágio, estacionamento e ainda perdemos a hora. Teve de pagar duas diárias e a brincadeira passou dos 700 contos", diz Cláudio.

E algum dia, alugarão um ônibus? "Só se a gente encher o ônibus de manequim ou boneca inflável", diz, com sinceridade, Bruno.

O GRANDE SONHO DE BARBA – Joaly, o Barba, é nacionalista-corintiano. Se for por frequência ao estádio, é mais Nacional. A última vez que foi até a arena, em Itaquera, foi na inauguração do estádio, com derrota para o Figueirense. A penúltima, foi em 1984. No campo do Nacional, está em todos os jogos. Tinha dois sonhos, um para cada time. "Queria ver o Corinthians campeão da Libertadores e consegui. Agora, quero ver o Nacional na primeira divisão e jogando à noite, com nosso campo iluminado. Não morro antes disso". Enquanto o sonho não se concretiza, ele lembra com orgulho de três acessos conseguidos pelo Nacional. E do goleiro Magrão, ícone do Sport. "Começou aqui, um cara decente e grande atleta. Um orgulho para nós".

Barba jogou muita pelada e a conta veio em forma de artrose, que lhe obriga a usar muletas. E a uma nova forma de comemoração. "Gol nosso é com muleta para cima e para baixo, sem parar. Quem estiver do lado, que tome cuidado".

O MOVIMENTO POPULAR FEBRE AMARELA tem um nome apropriado a São Bernardo, terra das grandes manifestações sindicais do final dos anos 70. É a torcida do São Bernardo, com 70 pessoas registradas na Federação e com menos nos estádios. "A ideia é ir sempre, de ônibus, de carro, de carona, de trem. Nem sempre dá, eu mesmo falto às vezes, porque tenho de cuidar do bar", diz Kaio, um dos fundadores, em 2012.

O grito impressiona, bem ao estilo argentino. "Sou da febre/Vou te apoiar/Atrás do gol vou estar/E mesmo rouco/Eu vou cantar/Que essa é a banda/Mais louca que há".

Ah, o resultado do jogo? Quer saber mesmo, tem importância? Foi 1 a 1, dois gols de pênalti no primeiro tempo. O Nacional, de Ferdinando (ex-Barcelusa) se igualou ao São Bernardo de Francismar (ex-Cruzeiro)

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.