Topo

Menon

Zinho, o desrespeito, o despreparo e o jornalismo no lixo

Menon

21/01/2018 11h29

Há duas semanas, fui convidado para participar de um programa de televisão. Fui convidado por um jornalista a quem respeito muito. O entrevistado seria um ex-jogador, com muita história bacana para contar. O programa tem audiência e respeito. O cachê seria zero, mas não foi o motivo de eu recusar, afinal já havia participado, sob as mesmas condições, de outros programas,

Um pouco constrangido, expliquei minha recusa. "Há muitos colegas desempregados, por conta da crise brasileira. Não acho correto eu, que tenho emprego, trabalhar de graça". O que eu não disse, porque ainda não havia chegado a esse consenso (ele veio em conversas com amigos) é que considero deprimente colegas jornalistas que estão em postos de comando, em condições de contratar pessoas não usarem esse poder para colocar no ar pessoas comprometidas com jornalismo. No mínimo, montar um bando de frilas.

Você que deve estar me xingando de corporativo, por favor leia a linha anterior. E está escrito "colocar no ar pessoas comprometidas com jornalismo". Não está escrito jornalista, porque nunca fui a favor da obrigatoriedade do diploma. Porque há jornalistas que também embarcam no show de piadas e brincadeiras que toma conta da televisão, hashtag pronto, falei.

Ao ver o total desrespeito de Zinho com a torcida do São Paulo, percebi que, modestamente, eu acertei na mosca. Nem vou falar de homofobia, que eu vejo evidente na frase sobre bambis. Fiquemos no desrespeito. A torcida do São Paulo não assimilou o bambi, como outras assimilaram maloqueiro, porco, urubu, favelado. Não há um juízo de valor aqui. Apenas o fato. Não aceitaram. Se não aceitaram, não diga. Se disser, saiba que está ofendendo uma torcida e uma instituição.

E por que Zinho fez? Por não estar preocupado com seriedade, respeito…jornalismo. Zinho não é jornalista. Ele está no ar, fazendo jornalismo, sem conhecer a ética da profissão, que deve ser seguida por todos, jornalistas ou não, desde que estejam na televisão, na sala das pessoas.

Zinho é ex-jogador de futebol. É ex-auxiliar técnico. É ex-dono de um time em Nova Iguaçu (ou ainda é). É ex-gerente de futebol. Não me lembro se ele foi treinador ou empresário. Então, ele está na televisão enquanto não recebe convite para exercer esses outros cargos, essas outras profissões ligadas ao ludopédio. Está ali de passagem, no lugar que deveria ser de alguém que se preparou.

Quando digo se preparou, repito, não estou dizendo sobre escolaridade. Não estou querendo reserva de mercado para ninguém. Apenas gosto de ver na televisão, pessoas que entendem a importância e a força de um clube de futebol. Ele é o depositário da paixão nacional. Se um dia houver uma questão entre Zico e Flamengo, a torcida ficará com o Flamengo.

É nosso clube que amamos. É nosso clube que não pode ser desrespeitado. Ainda mais, quando pagamos para ter televisão a cabo.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.