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Gabigol tenta escapar do abismo que criou com seus pés e com seu ego

Menon

17/02/2018 09h55

CRISTIANO ACONSELHA GABIGOLAngenor de Oliveira nasceu "errado" até na hora do batismo. Pobe e preto em um país desigual e racista, o menino que era pra se chamar Agenor e ser, sei lá, um flanelinha, transformou-se um poeta dos maiores. Poeta popular. Tinha o apelido de Cartola e compôs maravilhas. Uma delas é A vida é um moinho, que reproduzo abaixo.

Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés
E criou-se, no meu cérebro, uma dessas sinapses malucas, sem pé nem cabeça. O samba do gênio Cartola poderia servir para Gabriel Barbosa, o Gabigol, o garoto que se acha(va?) gênio.
"Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
O mundo é um moinho
Vai reduzir as ilusões a pó
Quando notares estás a beira do abismo
abismo que cavaste com teus pés.

Puro Gabigol. Saiu do Brasil sem ter estrutura emocional. E nem futebol suficiente para justificar tanta marra. Na Itália e em Portugal, foi caindo. As ilusões foram realmente trituradas. Estava à beira de um abismo que cavou com a cabeça mais do que com os pés. Mais especificamente, com a falta de cabeça e com o ego infladíssimo.Não sei a musa de Cartola teve outra chance. Gabigol está tendo, na velha casa. De volta ao Santos, já fez dois gols. Está em casa. E joga novamente um clássico. Torço muito por sua recuperação. Ele bem que poderia se mirar em Cristiano Ronaldo, que também tem um grande ego, mas que se esforça, a cada dia, como grande profissional, a construir uma carreira que justifique sua elevada autoestima. Gabriel, ao contrário, achou que era bom e que o mundo deveria reconhecer tamanho talento.

A vida não é assim. A vida é um moinho.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.