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Menon

Treinadores são o pior do futebol brasileiro

Menon

04/03/2018 14h54

Salvo engano meu, há três times brasileiros jogando com três zagueiros: Abel Braga, com 3-5-2 no Fluminense, Fernando Diniz (3-6-1 no Furacão) e Rogério Ceni (3-4-3) no Fortaleza. Não são gênios, não há gênios em futebolis terra brasilis, mas ao menos são treinadores caminhando ao contrário da procissão dos contentes.

Jogar com três zagueiros é melhor do que com quatro? Teoricamente, sim. Nenhum time joga com dois atacantes de área, dois centroavantes, então por que ter dois zagueiros na área? E, se você joga com uma primeira linha de defesa com três e não com quatro jogadores, sobra gente par atuar no meio, para manter a bola mais perto do gol adversário do que do seu. São conceitos baseados em números, não sou e não tento ser um especialista tático e não quer dizer que jogar com três atrás seja melhor do que com quatro.

Há muitas nuances no futebol. Nada é totalmente certo ou errado, mesmo porque um treinador depende das características do jogador que comandará. Não adianta montar linha de três se não há bons jogadores de flanco.

Mas o que me incomoda é a incapacidade dos treinadores brasileiros, em sua maioria, de tentarem alguma coisa diferente no ano ou mesmo durante a partida. Não se pode cobrar de um treinador que monte um esquema que não combine com os jogadores que tem, mas e o contrário? Um exemplo: vá dizer a um treinador que tenha dois ótimos meias para abrir mão de um de seus jogadores de lado de campo. Ah, não pode, vai abrir caminho para o lateral deles avançar. Como se todos os laterais jogassem como Roberto Carlosou Marcelo. E, não é possível abrir espaço deliberadamente e surpreender ocupando o espaço que o lateral deixa, ao subir?

E, quando o time está precisando vencer ou empatar e o treinador mantém os dois volantes. Prefere mandar que um dos dois avance e chegue à área rival, como se fosse meia, do que colocar um verdadeiro meia.

Vicente Feola, baseado nas ideias de Bela Guttman, inovou em 58, colocando Zagallo como ponta esquerda, superando Pepe, mais ofensivo e Canhoteiro, grande driblador. Zagallo era um jogador que corria mais, que recuava e ajudava  meio-campo. Zagallo, já treinador, em 1970, mudou a seleção montada por Saldanha, colocando Rivellino na esquerda em lugar de Edu, ponta autêntico. Cláudio Coutinho fez mudanças importantes na seleção e no Flamengo, com a projeção dos laterais no famoso "overlaping", expressão que serviu para, injustamente, ridicularizá-lo. São treinadores que ousaram, como o pouco lembrado Martim Francisco, um dos introdutores do 4-2-2, nos anos 40.

As grandes novidades dos atuais treinadores são: 1) reclamar de calendário 2) pedir um ano de estabilidade no emprego antes de ser avaliado (se for mal avaliado, ele não pedirá demissão, é certeza) 3) colocar a mão na boca antes de falar alguma coisa 4) buscar apoio tático nos conhecimentos de parentes, que são incorporados, com ótimos salários, à seu estafe 5) falar continuadamente das melhores condições de trabalho dos treinadores europeus, como se tivessem capacidade técnica e até inteletural (atenção, falo apenas da dificuldade em falar outra língua).

Trabalham no Brasil e não mostram nada de novo. E pedem condições de trabalho europeias, como se tivessem capacidade de trabalhar lá, na atual Meca do Futebol

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.