Carille, o operário padrão
Não imagino qual tenha sido a reação dos torcedores palmeirenses ao gol de Rodriguinho, aos 47 minutos do segundo tempo contra o São Paulo. O gol de cabeça do jogador de estatura média que propiciou a decisão por pênaltis que levou o time à final. A reação não foi unânime, é claro. Houve a turma blasé que não se importou, quem vier a gente traça, não tem ninguém que encare o Palmeiras. Os que vibraram, sentindo que a hora é de vingança contra um time combalido. E os que se preocuparam.
O desenrolar do campeonato mostrou quem estava certo. Seria muito melhor enfrentar o São Paulo. Não apenas pela fragilidade do Tricolor, não só pela presença recente de um novo treinador e sim pela letal efetividade corintiana, mesmo considerando resultados recentes, como as derrotas para o próprio São Paulo e para o Bragantino.
O Corinthians se transformou naquele time que se deve temer. Mais do que respeitar, é preciso temer. Porque ele vai além de suas forças e de suas possibilidades. Quando está bem, é difícil de enfrentar. Quando está mal, é mais difícil ainda. Não vou procurar números, vou me ater ao senso comum: o Corinthians tem decaído desde o final do primeiro turno do Campeonato Brasileiro. Futebolisticamente falando. E também numericamente. Os resultados diminuíram, a solidez defensiva não é a mesma, o ataque também não, mas….é o Corinthians. Campeão a cada seis meses.
Essa força do time ou do clube não é questão da camisa. Seria fácil analisar assim. Dizer que a camisa pesa seria dizer que o resto não pesa. E, me desculpem a repetição, mas o peso grande aqui é Fábio Carille.
O trabalho do moço de Sertãozinho, como diria Fiori Gigliotti é impecável. Eu me lembro quando trabalhava no Agora, em 2008 ou 2009 e meu amigo Luis Django Rosa, companheiro de bancada, me disse que um amigo dele havia deixado o Barueri para trabalhar no Corinthians. Tinha futuro, o Fabinho, garantiu.
Tem futuro sim, é lógico. Mas já tem um presente. Campeão paulista, campeão brasileiro e campeão paulista em seguida. Três títulos em um ano e meio. E é impressionante como o trabalho é feito com consciência, com denodo sem brilharecos. Carille não recalma. Ele trabalha duro.
Em relação ao Brasileiro, perdeu Jô, o artilheiro do time e do campeonato. Talvez o maior jogador do ano. Perdeu Jô e não veio ninguém. A aposta era em Trellez, que não se concretizou. Então, Carille colocou Kazim, que não deu certo, é lógico. Deslocou Júnior Dutra para o meio. Não seu certo. Colocou Lucca. Não deu certo. Sheik? Não deu certo. Apostou na dupla Rodriguinho e Jadson. E foi campeão. Ele sabe que precisa de um nove, já avisou Andrés e Duílio e enquanto não vem, vai com o que tem. Não transfere responsabilidade.
Perdeu Pablo e recebeu Henrique. Perdeu Arana e trouxe Juninho Capixaba. Um horror. A contusão possibilitou a vinda de Sidcley. Mateus Vital foi uma boa contratação. Ralf chegou e, parece, enfim colocará o maldoso Gabriel no banco.
Foram muitas saídas e reposições que não deram certo. Outras, sim. Todas passando por seu crivo. O que mostra que Carille não é infalível, muito pelo contrário. O que ele viu em Kazim? Mas, com erros e acertos, ele montou um time que voltou a ter bom poder defensivo, sofrendo apenas dois gols nos quatro jogos decisivos e levantando mais uma taça.
Carille trabalha sem frescura. Não esconde time, anuncia antes. Monta o Corinthians a partir da defesa. Não brilham, o time e ele. Não faz nada para aparecer e realmente se sentiu humilhado ao não receber cumprimento de Aguirre. Um mimimi que reflete o seu estilo de vida, nada programado. É uma pessoa cristalina. Faz bem ao futebol brasileiro.
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