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Julio Cesar, o último grande a se aposentar

Menon

23/04/2018 10h25

A festa de despedida de Julio Cesar foi emocionante. Porque não foi festa. Foi um jogo válido pelo Brasileirão, com muita gente no Maracanã. E Julio Cesar fez uma grande partida, com defesas importantes que impediram o América-MG de sonhar como empate. Não foi bonito apenas pelo aspecto competitivo. A emoção estava presente, com torcedores levando cartazes e faixas para o seu ídolo. Tudo feito em casa, nada comprado, nada patrocinado.

Marcante também foi ver a amizade entre Juan e Julio Cesar, amigos há tantos tempos. Símbolos do Flamengo. Juan chorando e Julio rindo como se fosse uma estreia. Realmente foi uma festa simples e bonita. Nada de despedidas marqueteiras, que não deixam de ser bonitas e emocionantes, mas essa, em particular foi tocante. Por ser um jogo à vera e pela presença da massa rubro-negra. Muitos foram para se despedir, mais do que para ver o ídolo pela última vez do que para ver o time, prazeroso compromisso semanal. Tomara que os estádios se abram para os pobres e não se tornem elefantes brancos de classe média alta.

Em 2010, escrevi um  livro Os 11 maiores goleiros do futebol brasileiro. Apresentei uma lista de 13 nomes à editora. Felix, campeão de 1970, foi vetado, apesar de ser um ótimo personagem. O patinho feio daquele time inolvidável. E jogou bem a Copla. Manga foi vetado, apesar de ser um grande personagem e um grande goleiro. Manguita, el Fenomeno, que brilhou n o Botafogo, no Inter, no Nacional de Montevidéu e no Equador. Manga falhou em 1966.

A lista foi definida e Julio Cesar estava nela. Ele foi tratado como "O mais europeu dos goleiros brasileiros, precisou encantar a Itália antes de se tornar quase unanimidade em seu próprio pais". Para cada goleiro, havia uma entrevista de um contemporâneo. Kaká falou sobre Julio Cesar: "Julio Cesar é um goleiro que tem o poder de decidir".

Na época, discutia-se se ele era ou poderia ser o melhor goleiro do mundo. E há depoimentos sobre o assunto.

"Um goleiro que tem grandes atuações em seu clube e repete esse nível na seleção, tem de ser considerado o melhor do mundo. Melhorou a concentração nos jogos e está melhor do que eu" (Taffarel)

"Boa parte dos jogadores brasileiros sofre com cobranças exageradas e muitos se perdem por causa de dinheiro e da vida noturna. Com Julio Cesar, isso não acontece. É um profissional perfeito, sempre treina com grande afinco e merece todas as honras e prêmios que tem recebido. É um goleiro extraordinário e consegue transformar o difícil em simples".

E o livro traz uma surpresa. Perguntei a Julio Cesar: "Quando você terminar a carreira, vai voltar ao Brasil e encerrar a carreira no Flamengo, junto à torcida que tanto te admira"?

E olhem a resposta:

"Não penso não. Estou muito bem na Europa e pretendo continuar por lá".

Pode até voltar, mas o coração fez com que viesse ao Brasil para se despedir do futebol. Julio Cesar não é tão europeu assim.

Os outros dez grandes goleiros do livro são:

Barbosa, o negro que carregou toda a culpa de uma derrota

Castilho, esteve em quatro copas e se despediu da vida voando de uma janela de seu edifício

Gilmar, o primeiro campeão do mundo, precisou superar a suspeita nunca comprovada de um suborno

Raul, que não precisou da seleção para se consagrar no futebol.

Leão, muito trabalho, pouca conversa e uma defesa que nada fica devendo à de Banks na cabeçada de Pelé

Zetti, que levou o São Paulo por dois anos ao topo da América e do Mundo

Taffarel, que jogou em grandes clubes, mas que brilhou mesmo na seleção

Rogério Ceni, obsessivo, talentoso e mito

Marcos, que rejeitou a Europa para jogar pelo seu Palmeiras na Série B. O maior goleiro da Copa de 2002

Dida, um gigante de gelo negro. Do interior da Bahia para três Mundiais.

Foi um livro muito gostoso de fazer. Tem entrevistas com Zagallo, Pinheiro, Pepe, Júnior, Leivinha, Valdir de Moraes, Jorginho, Leão, Edmílson, Rincón e Kaká.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.