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Liverpool x Roma: futebol europeu é bom porque tem dois times em campo

Menon

02/05/2018 18h13

Mais um grandíssimo jogo da Liga dos Campeões. A torcida da Roma foi para casa com a impressão que, se houvesse mais cinco minutos, novo milagre teria acontecido. No mínimo, prorrogação. Mas deu Liverpool. Com justiça.

Os jogos da Liga dos Campeões sempre terminam com gosto de justiça. Sempre há 22 jogadores em campo com a missão de, cada um com sua estratégia, buscar a vitória. Todos são generosos com o torcedor, todos têm um compromisso com a glória. Mas não só a glória. Parece haver um pacto de honra em que ser campeão negando o jogo é apenas vergonha.

A Roma, por exemplo. Precisava fazer três gols. Sofreu um e a missão passou a ser fazer quatro. Fez um e sofreu outro. No final do primeiro tempo. Então, precisava fazer quatro no segundo tempo para levar aos pênaltis.

Ora, para que jogar, se tudo está definido? Ora, jogue porque o jogo é feito para jogar. O jogo é feito para vencer. É preciso dignidade. E tome um gol, aos oito minutos. Faltavam três. O Liverpool poderia administrar o jogo, essa prática horrível. Foi para cima. Teve chances. E levou mais um. E mais um, já nos acréscimos. A Roma, que precisava fazer quatro no segundo tempo, fez "só" três. Sua torcida sabe que time fez tudo o que podia fazer.

Lutou até o fim. Teve estratégia para vencer. O Liverpool também.

O fato de haver dois times em campo querendo vencer faz uma diferença enorme em relação ao Brasil. Tanto quanto o nível dos jogadores, tanto como a qualidade dos gramados, tanto como o nível do espetáculo, com estádios cheios. Nada disso é possível igualar, mas entrar em campo com uma estratégia de vitória é algo simples. Todo mundo pode ter.

Imaginem as alternativas desse jogo em uma semifinal de Copa do Brasil.

O time A tem vantagem de 5 x 2.

Joga fora de casa.

Iria atacar desde o início, como fez o Liverpool?

E o time que sofreu o gol, iria continuar tentando, como fez a Roma, ou desistiria?

E, para o início do segundo tempo? O time que estivesse vencendo por  2 x 1 iria dar espaço no ataque ou montaria três linhas de quatro (ironia) para manter o resultado?

O time que estivesse perdendo, quase desenganado, precisando de quatro gols, teria ânimo para buscar o resultado?

É só pensar no Santos, por exemplo. Antes de entrar em campo contra o Nacional, ganhou a classificação a partir do empate entre Garcilaso e Estudiantes.

Classificado, jogou como se estivesse prestando um favor, como se estivesse em uma corrida de cágados mancos.

Lembram da decisão da Copa do Brasil do ano passado?

Cruzeiro x Flamengo.

No primeiro jogo, no Rio, o Cruzeiro jogou por uma bola. Essa coisa está matando o futebol.

Saiu perdendo e empatou em falha do goleiro.

No segundo jogo, em Minas, o Cruzeiro foi para cima, vencer o jogo e soltar o grito?

Nada disso. Continuou pragmático, esperando uma bola. E o Flamengo também.

Foram para os pênaltis.

O Corinthians, campeão brasileiro e bicampeão paulista, vamos falar a verdade, joga futebol a conta-gotas. Pragmático até o fim.

O São Paulo, então, inovou ainda mais. Não joga por uma bola. Joga por zero bola. Foi assim contra o Corinthians. Ficou atrás o tempo todo, sem contra-ataque. Perdeu aos 48. Contra o Fluminense, fez a mesma coisa. Sofreu o empate aos 43.

No Brasil, há no máximo um time buscando o jogo. As vezes, nenhum.

Ironicamente, foi a postura apresentada pelo Barcelona de Valverde no segundo jogo contra a Roma. Não jogou. Teve um plano de jogo baseado na impossibilidade de ser desclassificado após vencer o primeiro por 4 x 1. E caiu. O time, que já foi de Guardiola, teve uma postura de time pequeno brasileiro.

Nas outras decisões, sempre havia dois times. O Liverpool triturou o City, mas o City jogou. O Bayern perdeu em cada para o Real e jogou para fazer história no segundo jogo. Um 2 x 2 espetacular, com dois times querendo vencer.

E a Juve? Perdeu em casa para o Real por 3 x 0 e venceu fora, por 3 x 1. Mesmo o Sevilha, mais fraco, perdeu em casa para o Bayern e jogou bola em Munique, trazendo um empate.

O futebol na Europa é melhor, entre outras coisas, porque os times respeitam o futebol e entram em campo para…jogar futebol. Os dois times.

Parece tão simples. Por que não experimentam fazer isso por aqui?

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.