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Paquetá e Vinícius Jr. sofrem com a lógica torta de Dourado e Álvaro Dias

Menon

07/05/2018 13h48

Alguma, ele fez.

A frase, aparentemente banal, carrega uma crueldade imensa. Foi muito usada nos tempos da Ditadura. Alguém era preso e, mesmo sem saber o motivo, os "cidadãos de bem" justificavam a prisão. Alguma, ele fez.

O agredido é culpado pela agressão. Triste lógica. Tristes trópicos.

O senador Álvaro Dias afirma que é contra a violência, mas (sempre há um mas) que os atentados contra o acampamento de fãs do presidente Lula podem ter sido represália a uma provocação? Qual? Não explica. Ou, tudo pode ser uma encenação. Como? Também não explica. Depois da descaracterização e das dúvidas lançadas ao vento, diz que é contra a violência.

O volante Rodrigo Dourado, campeão olímpico, ao analisar a expulsão de Pottker, seu companheiro de Inter, por dar uma cabeçada em Paquetá, usou a lógica torta de Álvaro Dias. Para ele, os garotos do Flamengo são bons de bola, se entusiasmam com o Maracanã cheio e partem para a provocação, o que leva à reação. A agressão justificada. Na conta do agredido.

No caso de Rodrigo, ao contrário de Álvaro Dias, fica mais fácil imaginar qual é a provocação. Ela é futebolística, com pés passando por cima da bola, com dribles em excesso, tudo ao estilo Neymar.

Contra Rodrigo Dourado, fica a lembrança de como foi covardemente agredido por Edílson, em um Grenal recente. Quem sofreu na cara a dor de um murro, de uma violência injustificável, não pode ser conivente com nada. Álvaro Dias, que conheceu a ditadura, também não deveria usar argumento tão tosco, mas é melhor esperar alguma coisa de um volante do que um senador.

E o que fazem Vinícius Jr. e Paquetá?

Jogam futebol de alto nível. Não agridem, não mordem, não chutam. Driblam e passam. São bons de bola.

E são muito chatos. Como Neymar.

Nada que justifique uma agressão, mas são chatos.

Não há nada nas regras de futebol que justifique uma punição ao drible-humilhação. Aquele no meio de campo, de lá pra cá, de cá pra lá, sem projeção vertical e sem consequência técnica alguma. É apenas humilhação. Pode trazer dividendos práticos em caso de o rival se desesperar e levar um cartão. Ou ser expulso.

Mesmo assim, mesmo com um retorno prático, eu acho o drible humilhação uma bobagem.

Por ser humilhação. Por não ter esportividade. Típico de quem não sabe vencer.

Não sou eu que vou pedir que não façam mais. Não sou eu que vai justificar a agressão. Não sou eu que vai condenar Paquetá e Vinícius Jr. Seria muita covardia exigir dignidade e humanidade de dois meninos no país em que Álvaro Dias é senador e pode ser presidente.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.