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Menon

Fernando Diniz e a Seita da Posse de Bola

Menon

21/05/2018 13h24

Há uma história de Albert Einstein visitando o Brasil. Verdadeira? Não sei. Mas é muito saborosa.

Estava sendo ciceroneado, no Rio, por Austregésilo de Athaide, presidente da Academia Brasileira de Letras, cuja obra literária é rasa como um pires. Estavam caminhando e o brasileiro constantemente interrompia a conversa, sacava uma caderneta e fazia anotações.

Intrigado, Einstein perguntou:

O que o senhor anota tanto?

São ideias que tenho. Anoto para não esquecer e usar depois. O senhor não faz anotações de suas ideias?

Não faço não. Só tive uma ideia na vida.

E que ideia! Einstein, Freud e Karl Marx (todos judeus) tiveram ideias que revolucionaram o mundo.

Não é o caso de Fernando Diniz.

Ele é seguidor de uma ideia que revolucionou o futebol. E que está sendo muito mal executada no Atlético-PR.

Fernando Diniz não merece ser o ícone da Seita da Posse de Bola, formada por aqueles que só aceitam o futebol jogado de uma maneira. Não interessa se o time foi rebaixado, o que importa é se teve, durante o campeonato, mais posse de bola. Católicos, em busca da supremacia de uma ideia, fizeram cruzadas para matar mouros.

O fanatismo em torno de um conceito é errado, como todo fanatismo. Agora, ser fanático por um pastiche, é demais, né. Fernando Diniz não merece o fanatismo até por ser uma pessoa talentosa. Colocá-lo em um panteão de gênios só pode atrapalhar seu desenvolvimento. Afinal, gênios não podem ser contestados. Quer falar mal de Einstein? Destrua sua teoria? Quer falar mal de Fernando Diniz. Ganhe dele. Não, não basta. O fanatismo é tão grande que ele pode perder tudo que será incensado do mesmo jeito. As críticas são para quem o vence. Afinal, ganhar usando o contra-ataque devia ser proibido.

E está muito fácil ganhar do Fernando Diniz. É só esperar que o Atlético ataque, com muita gente na área do rival, tomar a bola e sair rapidamente para o ataque. Encontrará uma defesa aberta, sem cobertura e sem recuperação. Abel disse que viu os jogos anteriores e que resolver dar a bola ao rival. Por que? Porque sabia que estava ali a grande chance de vencer.

Diniz repetiu na entrevista coletiva após a quinta derrota seguida que suas convicções o levaram ao Atlético e que eventuais acertos devem ser feitos dentro de suas convicções e não fora delas. Me parece Testemunha de Jeová recusando transfusão de sangue.

A Seita da Posse de Bola, a cada crítica ao trabalho de Diniz ou de Roger ou de Micale, os sacerdotes, brande o argumento do resultadismo. Não interessa o resultado e sim o trabalho. Não se pode criticar antes de um tempo.  Nunca explicam qual é esse tempo. Quantos jogos, quantos meses, quantos campeonatos?

O resultado é a coisa mais importante do esporte. Todo esporte. Sou fanático dessa teoria. Sou Testemunha de Jeová. O Fortaleza precisa lutar por título estadual, precisa lutar por acesso a Serie A e precisa ser cobrado para fugir do rebaixamento. O São Paulo precisa ser cobrado por títulos. E o Furacão?

O presidente Petraglia já chegou a dizer que seria, em anos, o time mais popular da América do Sul. Ainda não é o time mais popular em Londrina. Tudo bem, leva tempo, mas é um time que tem toda capacidade de lutar por uma vaga na Libertadores. Atualmente, está flertando com o rebaixamento. Até eu acho que é cedo para cobrar. Mas a partir da 12º rodada, quando há a parada para a Copa do Mundo, sim.

E então fazer um rearranjo. Trazer novos jogadores, cobrar o polimento da ideia e até, por que não, perguntar delicadamente, sem ofender, se, de vez em quando não é bom dar um bico para o mato.

Um treinador pode ser fiel às suas convicções. Não será preciso negá-las como Galileu diante da Inquisição. Ela, a Inquisição, está voltando, mas sem a mesma força de antes. O errado é um clube ser refém de uma ideia que está sendo mal executada e que tem dado resultados ruins. Um clube não pode cair na esparrela de que resultado não é importante. E nem esperar infinitamente que, depois de muitas derrotas, depois de um ano de trabalho, haja a possibilidade de fazer História.

Mesmo porque quem garante que Fernando Diniz fará alguma revolução no futebol?

PS – A contratação de Fernando Diniz pelo Furacão envolve um erro de estratégia. Se, para a ideia funcionar, é preciso tempo, é preciso treinamento, é preciso tempo de jogo, é preciso conhecimento de elenco, é preciso tempo para que o elenco conheça os métodos do treinador para que disputar o Paranaense com time sub-23? Com outro treinador? Enquanto os outros times têm treinadores com tempo de trabalho, como Enderson Moreira há mais de ano no Coelho, por que dar menos tempo a Diniz?

Bem, eles que são gênios que se entendam. Eu vou dar uma lida na Teoria da Relatitivade, do Eisntein. É mais fácil.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.