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Simon: "Confessei um erro por ser humilde e passei a ser mais admirado"

Menon

28/05/2018 15h23

Carlos Eugênio Simon foi o representante da arbitragem brasileira nos Mundiais de 2002, 2006 e 2010. É jornalista formado com pós graduação em Ciência dos Esporte, com especialização em futebol. Ele conversou com o blog a respeito da arbitragem na Copa, no Brasil e sobre as consequências de haver assumido, há um mês, um erro que cometeu em 2009, quando anulou um gol de Obina, então no Palmeiras, contra o Fluminense.

Em minha opinião, foi um ato correto dele, trazer o assunto à tona e reconhecer um erro. Assumir um erro é algo importante em tempos sombrios, quando os ânimos andam tão exaltados.

O que você espera da arbitragem no Mundial?

A arbitragem mundial não está em um bom momento, assim como a brasileira. Mas o comando está em mãos competentes, como Pierluigi Collina, com quem trabalhei em 2002 e o Massimo Busacca, com quem estive nos Mundiais de 2006 e 2010. Agora, é necessário ver se terão autonomia para trabahar. Os melhores, na minha opinião são o holandês Bjorn Kuipers e o holandês Felix Brych. Senti falta da arbitragem da Inglaterra, que é profissional e de alto nível.

E o árbitro de vídeo?

É a grande novidade. Sou totalmente a favor. Foram escolhidos 13 árbitros do mundo todo para trabalhar na cabine. Da América do Sul, estarão o Wilton Sampaio, do Brasil, o Gery Vargas, da Bolívia e o Mauro Vigliano, da Argentina. Ficarão na cabine um árbitro e um assistente apenas para lances de impedimento. Fizeram uma preparação muito boa, já trabalharam em competições como a Libertadores e a Recopa sul-americana. Não será perfeito, precisa aperfeiçoar, mas será um grande avanço.

Se o Brasil chegar à final contra uma seleção europeia, quem tem chances de apitar?

Neste caso, não pode ser um árbitro da UEFA e nem da Conmebol. Das outras confederações, eu gosto do Joel Aguillar, de El Salvador,  Mark Geiger (EUA), Bakary Gassama, de Zâmbia e o Raushan Irmatov, do Uzbequistão. Mas pode acontecer de outro árbitro ganhar força durante a competição, ir crescendo e ganhar a disputa.

O Sandro Meira Ricci pode fazer uma boa Copa?

O perfil de árbitro exigido pela Fifa é que esteja bem tecnica, fisica e psicologicamente bem preparado. Ele está. Já é sua segunda Copa e pode fazer bom trabalho, sim. Quando vai a uma Copa, o árbitro precisa esquecer os vícios da arbitragem em seu país, esquecer tudo, se adaptar ao padrão. Uma das coisas, já antiga, é garantir que as partidas tenham 60% de bola correndo.

Quais são os vícios da arbitragem no Brasil?

Essa coisa de cercar o árbitro. Se há um lance polêmico, os jogadores se dividem. Uma turma vai peitar o árbitro, outros vão no auxiliar e mais um tanto no adicional. Um absurdo.

Como melhorar a arbitragem no Brasil?

Precisa profissionalizar. Arbitro precisa ter médico, psicólogo, fisiologista, fisioterapeuta, massagista. Precisa estar bem preparado para não sofrer pressão. Ah, não tem dinheiro? Venda patrocínios, é fácil. E precisa acabar com sorteio. As pessoas precisam decidir conforme a qualidade dos árbitros. Decidir com autoridade e não com autoritarismo.

No mês passado, você reconheceu que errou contra o Palmeiras em 2009, anulando um gol de Obina. Qual foi a repercussão na sua vida?

Uma pessoa me parou na rua e me cumprimentou. Disse que eu tive coragem para assumir meu erro. Eu me sinto mais admirado, apenas provei que sou um cidadão tranquilo, companheiro e leal. Assumir um erro é prova de humildade. Eu já havia feito isso em relação a um jogo do Botafogo contra o Atlético, quando não dei um pênalti para o Galo. Duas vezes eu reconheci um erro. Você conhece algum outro árbitro de meu nível, com três Mundiais, Olimpíada, Copa América, muitos jogos importantes, que assumiu um erro? As pessoas entenderam isso, em geral. Sou um cidadão consciente, o erro me faz crescer, reconhecer o erro ainda mais. Mas tem os fanáticos que só enxergam o próprio nariz.

 

 

 

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.