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Corinthians e Marielle sobem ao pódio, pelas mãos de Gustavinho

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24/06/2018 12h22

Quem matou Marielle?

A pergunta que envergonha o Poder Público do Brasil estava estampada na camiseta de Gustavo dos Santos Pereira Lima, o Gustavinho, armador e capitão do time de basquete do Corinthians. No dia em que se completavam 100 dias do bárbaro assassinato da vereadora carioca, o Corinthians voltava à elite do basquete brasileiro após 23 anos.

Gustavinho, de 31 anos, é corintiano e teve em Ronaldo Giovanelli o seu primeiro ídolo. O maior, porém, ele conheceu depois. "Quando conheci a história do Dr Sócrates e da Democracia Corinthiana, me apaixonei. A luta dele pelas Diretas e o fato de sempre se posicionar, me influenciaram e pensei em fazer a homenagem a Marielle".

O processo foi gradativo. Em um dos jogos, ele conversou com diretores do clube e pediu para que o time todo entrasse na quadra, contra o São José, adversário na final, com uma faixa protestando contra a MP 841, que tira dinheiro do esporte e da cultura e direcional para a segurança pública. Uma medida de Michel Temer e que os esportistas consideram como pá de cal para o esporte brasileiro. "Como o presidente do Corinthians é deputado federal e é contra a medida e também deu entrevista falando como ela é perigosa para o esporte, fiz o pedido da faixa e fui atendido", diz Gustavinho.

Depois, sugeriu que todo o time entrasse com a camiseta homenageando Marielle. Os diretores pediram um tempo para pensar. Ele, porém, fez a sua, um trabalho do amigo Renato Atuati. "Ele usou como referência um trabalho do artista Cildo Meireles, que, nos anos 70, quando o jornalista Wladmir Herzog foi assassinado, ele fez um carimbo para marcar notas de um real. O texto era 'quem matou Herzog' e adaptamos a ideia para o caso da Marielle.

Título ganho na quarta partida contra São José, Gustavinho se aproximou de um dirigente e disse que havia feito a camisa e que gostaria de entrar com ela na quadra. Pedido aceito, ele não esperou duas vezes. E foi para a festa.

Para o capitão corintiano, usar a camiseta com a inscrição não significa ser de esquerda. Ele ainda não sabe em quem votar. Mas, para ele, a dicotomia é outra, nada de esquerda x direita. "A morte dela é barbárie, afronta a civilização. Dela e do Anderson, motorista. Não existe nenhum resultado prático nas investigações, tudo continua igual. Eu me posicionei a favor dos Direitos Humanos, contra a desigualdade de gênero e homenageei uma mulher forte, negra, favelada, gay e socióloga. Ela é um acúmulo de minorias".

Depois do jogo em São José, os jogadores comemoraram no hotel e, em São Paulo, no Parque São Jorge, houve mais festa, com comida, bebida e música. E uma sirene altíssima. "Sempre que o Corinthians faz algo importante, a sirene toca. Dessa vez, foi para nós, do basquete. Foi uma emoção enorme".

Os jogadores, Gustavinho inclusive, tem contrato apenas até o final de junho. E, em julho, começa o campeonato Paulista. Em novembro, o NBB. O nível é muito mais alto, mas o capitão acredita em sucesso. "Nosso treinador, o Bruno Savignani, montou um time aguerrido, brigador e disciplinado taticamente. E nós nunca jogamos fora de casa, porque nossa torcida é sensacional. Então, se tudo for mantido, dá para fazer um bom trabalho, sim".

Uma torcedora não irá. Glória, mãe de Gustavinho. "Ela sempre foi minha maior incentivadora. Nunca perdeu um jogo meu, em nenhum lugar, até ficar doente e morrer no ano passado. Na hora do título, homenageei a Marielle, mas chorei por ela".

FOTO DE PEDRO CHAVEDAR

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.