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Uruguai e Argentina provam. Só camisa e mística não ganham jogo.

Menon

30/06/2018 17h19

Duas seleções com muita história. Quatro títulos mundiais e quatro Olimpíadas. Duas camisas pesadas. Muita história em campo. Uruguai passou por Portugal. Argentina foi brecada pela França. Não faltou luta, suor, carrinho para nenhum dos dois. Então, por que apenas o Uruguai está nas quartas?

Porque Uruguai é um time. Porque Uruguai, principalmente a partir de Tabarez, entendeu que apenas mística não ganha jogo. A história uruguaia mostra isso. Quando venceu as duas Olimpíadas, em 24 e 28, quando excursionou à Europa nos anos 20, quando venceu o Mundial de 30, o Uruguai não era conhecido por raça ou coisa assim. Era um time espetacular.

Em 1950, o fracasso brasileiro levou Barbosa e Bigode ao inferno e colocou Obdulio Varela no céu. Era a figura do caudilho, que nós usamos para explicar nossa derrota. Afinal, o título era certo e a culpa só podia ser da fraqueza emocional dos nossos jogadores, principalmente dos dois negros. Estou aqui, questionando o valor mítico de Obdulio? Não. Mas é preciso dizer que ele era um ótimo jogador e que o Uruguai, um grande time.

Em 1954, o Uruguai foi eliminado na prorrogação pelos húngaros. Foi a primeira derrota da Celeste. Então, o futebol uruguaio é grande. Enorme. Não pode ser resumido a raça.

E quem fez isso? Os uruguaios, é claro. Quando faltaram os grandes jogadores, eles se apegaram à história. Apenas a ela. E a raça virou pancada, virou jogo feio, virou baixaria. Eliminações. O fundo do poço.

A partir da chegada de Tabarez, há 12 anos, houve um trabalho seriíssimo nas categorias de base. Chegaram novos jogadores, montou-se um estilo de jogo. E a raça deixou de ser violência. Passou a ser um fator importante do sucesso de uma geração.

Com Tabarez, não é só raça. Há um time bem montado. Foi o que se viu contra Portugal. Cavani fez dois gols e quantos desarmes? Suárez, o Matador, deu um passe espetacular. E houve um meio-campo com jogadores de bom nível: Torreira, Betancourt, Vecino e Nández são muito melhores que Arévalo, Nacho, Russo Perez. Tabarez deu campo a uma nova geração e o time está rendendo muito.

É lógico que, durante o jogo, aparece o estilo gaulês. É a pequena aldeia sufocada pelos romanos e se defendendo como quem defende o chão de Montevidéu. Godín, um zagueiro estupendo, Cáceres, Cebolla na lateral, Cavani como volante….Raça, sim, história, sim, mas um time com bons jogadores e com três, Godin, Cavani e Suárez, que jogam em qualquer time do mundo.

E a Argentina?

É o velho Uruguai. Não teve time nas eliminatórias, não teve time na primeira fase e chegou ao mata-mata sem time, preso às experiências de Sampaoli.

Teve raça?

Muita.

Messi deu carrinho, Mascherano teve o rosto cheio de sangue, Teve força para tentar um empate. Mas não teve conjunto. Não teve time. Não teve Messi em seu melhor momento.

Camisa ganha jogo? Mística vence partidas?

Evidentemente. Desde que a camisa seja vestida por bons jogadores, formando um bom time.

O Uruguai tem.

A Argentina, não.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.