Ditadura da arbitragem prejudica o Ceará
Zé Gustavo, um tio muito querido, sempre me levava em seu caminhão até a fazenda. A gente saía logo de manhã.
Minha mãe deixava o recado: "Zezé, não deixa o menino tomar leite direto da vaca, não é pasteurizado". E, se a viagem de 24 quilômetros começava sempre do mesmo jeito, com aviso da mãe, o diálogo entre o tio legal e o gordinho nerd também era sempre igual.
Tio?
Fala, menino?
Quantos quilômetros são?
24 quilômetros.
Então, são 24 mil metros?
São.
Então são 2 milhões e quatrocentos mil centímetros? E quantos decímetros? E milímetros?
Ah, sei lá, moleque. Vaí caçar sapo com tanta pergunta.
Vai caçar sapo.
Que expressão maravilhosa!!
Vagner Reway talvez não a conheça. Se conhecesse, poderia utilizá-la para confrontar o atacante Leandro Carvalho, do Ceará. Muito irritado por haver perdido um gol feito e, em seguida ver seu time sofrer um, o que era derrota quase segura, ele dirigiu-se ao árbitro e reclamou de um bandeira. Segundo o técnico Lisca Doido, Leandro teria dito apenas: "o bandeirinha está de sacanagem com a gente".
Não acreditei. Duvido que um árbitro iria expulsar alguém por causa disso. É só responder: "vai caçar sapo, Leandro. Não enche o saco e joga bola".
Então, fui procurar na súmula do árbitro o verdadeiro motivo da expulsão de Leandro Carvalho.
E, lá está:
Motivo: V2.8. Outro motivo (detalhar no campo expulsões) – Expulsei o jogador da equipe do ceara n° 80 sr leandro carvalho da silva aos 34 minutos do 2º tempo de jogo por usar palavras grosseiras e ofensivas contra o assistente nº 1 sr alessandro alvaro rocha matos. o sr leandro se dirigiu a mim dizendo: "aquele porra ta de sacanagem, ta de sacanagem" repetindo isso diversas vezes apontando e fazendo gestos em direção ao referido assistente.
Lisca estava certo. Doido é o Reway. Doido é o coronel Marinho. Os dois vivem em um mundo paralelo.
Para eles, como seria uma aceitável discussão entre dois jogadores após uma dura entrada?
Bobo!!!
Tonto!!!
Cara de melão!!!
Feio!!!
Sou feio, mas sou feliz!!! Mais feio é quem me diz!!!
A arbitragem do Brasil é extremamente autoritária. Os árbitros, acredito, gostariam de voltar no tempo e serem chamados de "Sua Senhoria". Eles não entram em campo para sair dele de forma totalmente desapercebida. Eles querem é fazer a autoridade aparecer. Como nos tempos da Ditadura Militar em que qualquer guardinha de esquina, qualquer segurança de loja, se achava acima do cidadão comum. Extrapolavam seu poder. Poder, muitas vezes, ilegítimo. Mas, como o exemplo vem de cima.
Vagner Reway tirou um jogador de campo por conta de uma bobagem. Deixou um time com onze e outro com dez. Foi um ditadorzinho e não um árbitro. E só faz isso porque é respaldado. Só faz isso porque é instruído a fazer isso.
A autoridade de Sua Senhoria está acima da justiça no futebol. Está acima de tudo.
Quer saber de uma coisa, Vagner Reway?
Vá caçar sapo, meu filho.
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