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Menon

Futebol brasileiro vai mal, muito mal

Menon

24/09/2018 14h27

As expressões populares vão caindo em desuso e tornam-de datadas. Indicam a idade de quem as reproduz. É o meu caso, com certeza, ao me confessar "macaca de auditório" do futebol brasileiro. Para mim, sempre foi o melhor. Traz em seu bojo uma identificação com o lúdico. com a alegria, com o jogo bonito, uma lembrança das peladas de infância. Não há nada igual.

Gosto de imaginar a gênese do futebol brasileiro da seguinte maneira, bem utópica e romantizada: um dia, há mais de cem anos, os ingleses que trouxeram o futebol para cá, estavam em uma chácara, cercada por muros, playing soccer. Passes curtos, programados, insossos, drible um pecado. Então, um dos botinudos deu um chute para o alto. A bola subiu, subiu e caiu do lado de fora. Caiu, não. Um garoto sem sapatos, viu sua queda, se aprumou e…matou no peito. Com muito carinho. Então, esperou que ela deslizasse por seu corpo até os pés. Meteu uma rosca para outro companheiro, que logo deu um chapéu em quem veio lhe tirar a bola e….habemus futebol brasileiro.

Exagero, eu sei.

Talvez todo esse amor tenha a ver com títulos conquistados. Dos cinco aos 17 anos, vi a seleção brasileira ganhar três Copas. Gilmar, Djalma Santos, Mauro, Nilton Santos, Didi, Garrincha, Pelé, Tostão, Jairzinho, Rivellino, Carlos Alberto, Clodoaldo, Gérson, todos craques. Que time maravilhoso é possível fazer com os jogadores citados! Nenhum país do mundo viveu essa supremacia técnica estupenda em um período tão curto.

Por causa dessa paixão, sempre tive um pé atrás com futebol europeu. Sempre tive preconceito. Mudei pouco a pouco. Atualmente, gosto de ver o campeonato inglês. Meu time é o Liverpool, por causa dos Beatles. No Espanhol, sou Barcelona, por conta de Messi. E, na Italia, sono tifoso di Napoli, herança de Maradona.

Ainda tenho esse lado emocional, essa paixão pelo Brasil e outros sudacos, mas a razão se faz presente nos últimos tempos. E é preciso reconhecer que estamos jogando muito mal no Brasil. Muito mal.

Meu coração diz que a culpa é do dinheiro, que leva para a Europa quem ainda nem estreou no Brasil. Jogadores que poderiam nos dar alegrias sem fim, já estão em algum time transnacional, com 17 ou 18 anos. Mas, não é só isso, convenhamos.

No final de semana, vi dois jogos: São Paulo x América e Corinthians x Inter. O líder, o vice-líder e o atual campeão. Que pobreza!!! O São Paulo, sem força técnica e nem anímica para conseguir a vantagem necessária para garantir a liderança. Um time sem repertório, que deve muito de seu sucesso à dupla Nenê e Diego Souza. Superaram todos os críticos, inclusive os mais amargos, como eu, mas, convenhamos, juntos eles tem 70 anos. Nada contra, nenhum preconceito, mas a verdade é que o líder do Brasileiro tem em dois veteranos, os seus pilares. O tripé é completado pelo bom Everton.

É sempre o mesmo jogo. O time entra em campo, faz um gol, volta para a defesa e sua sangue para manter o resultado. Muita aplicação e orações e oferendas para Nossa Senhora do Contra-Ataque.

O Inter é o terceiro colocado. No domingo, era o segundo. E o que se vê? Mais do mesmo, nada de jogo bonito (sim, é o que eu gostaria de ver, embora não tenha o direito de exigir que um time jogue como eu gosto), aplicação e mais nada. Fez um gol em bola parada, com quatro jogadores impedidos e sofreu um gol em bola parada com duas cabeçadas dentro da área. No final, entra D´Alessandro para reforçar a bola parada.

O Palmeiras? Está vindo em uma escalada impressionante, empolgante, mas é um futebol que empolga, além dos números espetaculares. Também é um time que adora bola parada e um contra-ataque. O diferencial é o elenco, maior, que lhe permite opções. Quando alguém está jogando mal, entra outro que pode jogar bem.

Eu não sou parnasiano, do tipo, arte pela arte. Não acho obrigatório que se jogue com defesa alta no campo do rival, principalmente quando tenho zagueiros lentos. Não abomino o jogo de resposta, não sou saudosista, mas constato a realidade. Mas a coisa aqui está feia, sim.

Custa ter um pouco mais de ousadia? De treinar, treinar, até cansar para que o jogador de lado de campo tenha drible? Encare, vá para cima. Como Michael, do Goiás, apenas 1,64m? Com Matheusinho, do América? Não dá para fazer um gol e pressionar pelo segundo? Não dá para variar um pouco? Treinador tem medo de ser demitido se perder. Por isso, joga na retranca. Perde e é demitido do mesmo jeito.

Ganhe quem ganhe o Brasileiro, haverá linda história a se contar. O renascimento de Felipão no Palmeiras. A garra uruguaia tirando o São Paulo de uma filha de 10 anos. O Inter, da segundona ao título. O Flamengo e seu povo feliz. O Grêmio de Renato, cada vez mais ídolo.

Toda história terá sido justa. Mas, não se pode esquecer uma coisa.

Estamos jogando mal. Muito mal.

É preciso mudar alguma coisa no futebol que se joga aqui. Está muito feio.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.