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Filme é homenagem quase à altura de Eder Jofre

Menon

04/10/2018 11h57

Fui ver "10 segundos para vencer", sobre Eder Jofre, do diretor José Alvarenga Jr.  Maravilhoso. Muito bom. Lá no título, eu falei "quase" por um simples motivo. Eder é tão grande que é impossível ter algo que o mostre integralmente.

Osmar Prado faz o papel de Kid Jofre, o pai de Eder. Se fosse um filme americano, ele seria forte candidato ao Oscar. Transmite emoção em cada cena. É o patriarca ríspido e implacável na relação com o filho. É possível ter raiva dele, mas não é um vilão. E a interpretação de Osmar Prado passa isso.

Daniel Oliveira novamente faz uma atuação baseada no mimetismo, como em Cazuza. Impressionante como ele se parece com Eder. Não é só isso. Não é um caso de imitação. Ele transmite muita emoção, principalmente nos momentos de dúvida sobre a continuidade no boxe ou a dedicação à família.

As cenas de luta são muito bem filmadas. Têm ritmo, tem tomadas de baixo para cima, tem close nos lutadores. E ainda mais, há momentos em que as verdadeiras lutas de Eder são mostradas. Filmes antigos, da Atlântida, uma raridade.

Há imperfeições históricas, mas o filme não é um documentário. Poderia ter mostrado Eder na Olimpíada de 56. Joe Medel, seu primeiro adversário nos EUA, é apresentado como um campeão sem coroa, com 25 lutas e 24 nocautes. O site boxrec.com mostra que ele tinha 43 vitórias, 16 derrotas e três empates.

A parte do filme que mostra a dificuldade de Eder para perder peso é muito impactante. Mostra o pai o impedindo de beber água, dormindo com dois agasalhos e mascando chiclete e cuspindo, para perder duas gramas em cada um. Tudo bem, é assim mesmo, mas Eder, o filme mostra, precisava perder três quilos em duas semanas. Muito fácil. E ele só consegue seis horas antes da luta. Um sacrifício, que pode mesmo ter existido, mas não para três quilos em duas semanas;

Há três diálogos incríveis.

Na luta contra Medel, Eder não consegue voltar mais. Pede para desistir.

Não consigo respirar. Não dá mais, pai.

Lutadores lutam. Campeões vencem. Você está representando um pais.

Cansado de lutar e cheio de dúvidas, Eder pergunta ao pai:

Até quando você quer que eu lute, pai?

Vai parar somente quando você estiver apanhando mais do que batendo.

E o terceiro diálogo é de Eder com Cidinha, sua mulher.

De que adianta ser campeão mundial? Ninguém me conhece.

Quanto aos dois primeiros, não posso dizer nada. Mas o terceiro tem muito fundamento. Posso garantir. Em 2012, entrevistei Eder para a Revista ESPN e ele me falou algo assim. "Se eu fosse argentino como meu pai, seria abraçado na rua até hoje e teria estátua para mim em Buenos Aires".

Agora, tem um filme, campeão. Um ótimo filme.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.