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Amadurecido, Ceni fica menos Osorio e mais pragmático pelo sonho do título

Menon

31/10/2018 04h00

O Fortaleza, dirigido por Rogério Ceni, pode garantir o acesso à Série A do Brasileirão no próximo sábado, a partir das 17h. Precisa vencer o Atlético-GO, em Goiás. Mas isso só será possível se, no dia anterior, Vila Nova e Londrina não vencerem Paysandu e Avaí, respectivamente. Se tudo isso se concretizar, o Fortaleza chegará a 64 pontos e o quinto colocado terá no máximo 52. Serão 12 pontos de diferença em quatro rodadas. E como time cearense tem 19 vitórias contra no máximo 14 dos rivais, o acesso estará definido.

Subir com quatro rodadas de antecedência é para poucos. A torcida está em êxtase. Nos dois últimos jogos, o Fortaleza levou 107 mil pessoas ao Castelão. O clube tem os 12 maiores públicos da Série B. Está tudo bem. Só que não. Rogério Ceni tem dito a amigos que não se contentará com nada menos que o título. Afinal, está seis pontos à frente do Avaí, segundo colocado, e faltam cinco rodadas. Para alguém tão competitivo como Ceni, perder o título seria incompreensível.

Será sua primeira conquista. E ele não abre mão. Característica de um obcecado pelo trabalho. Sempre foi assim. Mas o Rogério Ceni que luta por seu primeiro título é o mesmo treinador que foi demitido do São Paulo há um ano e pouco? Em certas características, sim. Mas há uma diferença, sim. Brutal. Ceni está mais pragmático. Está menos inventivo. Menos Juan Carlos Osorio, uma de suas referências.

Antes do caminho para o pragmatismo, Rogério passou por uma transição no Campeonato Cearense. Foram 18 jogos e 18 escalações diferentes. Com esquemas diferentes, não 18 é claro. Mudou muito. Escalou reservas. E terminou em segundo lugar, atrás do Ceará. Ser vice do estadual é o mesmo que ser último colocado para a torcida do Fortaleza. Mesmo lembrando que em 2017 o time ficou em terceiro, o que o tirou da Copa do Nordeste.

Rogério sabia disso e usou de todas suas forças. Falou em favorecimento ao Ceará, exigiu arbitragem de outros estados e, depois da derrota consumada, cometeu um erro. Disse que o adversário tinha mais time. E o mundo caiu. Foi xingado e alguns torcedores, hoje totalmente arrependidos, pediram sua cabeça.

Então, Ceni mudou. Começou o Brasileiro com um esquema fixo. Goleiro, quatro zagueiros, volante, dois meias, dois pontas e um centroavante. Aqui, uma característica igual ao de seu trabalho no São Paulo. Aposta total em jogadores velozes pelo lado de campo. Se no São Paulo, os nomes eram David Neres e Luís Araújo, no Fortaleza, eram Edinho e Osvaldo, que logo foi para a Tailândia. Para o seu lugar, veio Marlon, do Sampaio Correia, que nem é tão velocista. Está mais para armador. Quando o Galo levou Edinho (Leo Natel, seu reserva foi para Portugal), a diretoria correu atrás de reforços com características de velocidade. Vieram Romarinho, Marcinho, Minho,, Getterson e Douglas Coutinho.

Com bons jogadores de lado e bons meias (Dodô, que veio do Botafogo-SP, foi um achado), Rogério apostou muito na figura do centroavante, algo que não era comum no São Paulo. E o nome foi Gustagol. Uma parceria que começou a dar certo no primeiro jogo do Brasileiro, quando o Fortaleza empatava em casa com o Guarani e Gustagol marcou de falta aos 49 do segundo tempo. Uma falta bem ao estilo de Rogério Ceni.

Não tem dúvida. Quando o jogo está difícil, cruza para o Gustagol. No fim do primeiro turno, ele se contundiu e o Fortaleza caiu muito. A diretoria correu e contratou Ederson e Rodolfo para suprirem a ausência do matador. Em alguns jogos, então, apareceu novamente o Rogério Ceni inventivo. Sacou o zagueiro, recuou o volante e entrou com mais um centroavante. E tome bola alta.

Foi no período ruim do Fortaleza, final do primeiro turno, que o Ceni pragmático entrou em campo. Para reagir e não perder a liderança, não podia perder para o CSA em Maceió. E o que se viu foi um time maduro, pronto a defender sua posição, mesmo que jogando feio. A retranca funcionou e a reação se estabeleceu a partir daí.

Rogério entendeu que, na Série B, a técnica pode ser apenas um detalhe. Confessou a um amigo que não abre mão de alguns jogadores com muita força física. Diego Jussani, por exemplo, é imprescindível, mesmo sendo um zagueiro com menos técnica que Roger Carvalho, seu reserva.

Todo o trabalho de Rogério Ceni – esquema tático, escolha de jogadores e outras opções – é visto apenas em campo. Nada se vê nos treinos. Eles são todos fechados. E Ceni nunca deu uma entrevista exclusiva em Fortaleza. Só fala com a imprensa local nas coletivas. Tem bom relacionamento com os funcionários, que o veem como uma estrela mundial.

O poder de Ceni é grande. Ele pediu uma boa sala de musculação e passou a treinar no CT do Fortaleza, a 25 quilômetros do centro. É um centro de treinamentos muito bonito e que não era utilizado por outros treinadores, Influencia muito na contratação de jogadores. Não há um nome que não passe por eles. Lembremos que no São Paulo foi assim e que vieram muitos jogadores que fracassaram, como Denílson, Marcinho e Neílton.

Juntamente como o gerente Charles Hembert e Haroldo Lamounier, preparador de goleiros, que trabalharam com ele no São Paulo, Ceni trabalha muito. Não será exagero que esse Fortaleza (o time, não o clube) é o Fortaleza de Ceni. Um treinador que manteve características como a pressão no campo do rival, como o jogo rápido pelos lados, mas que abriu mão de trocas excessivas e muitas variações táticas durante o jogo.

Ao ataque, mas com mais pragmatismo.

Um Ceni amadurecido.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.