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Edu pede mais dribles e respeito com Neymar

Menon

02/11/2018 04h00

ARQUIVO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

Pouco sabem, ou não se lembram, quem foi Jonas Eduardo Américo. Sobretudo os mais jovens.

Mas se falarmos do ponta esquerda Edu, logo virá à lembrança um dos maiores dribladores do futebol brasileiro e mundial. Hoje aos 69 anos, tocando projetos para a revelação de jovens talentos em clínicas de futebol no Paraná e também nos Estados Unidos, o grande camisa 11 do Santos de Pelé e da seleção brasileira lamenta a falta de ousadia e encanto nos gramados, diz que está difícil surgir "feras" e "ídolos" no "chato" futebol brasileiro, reclama dos "invejosos" de Neymar e protesta contra técnicos que querem "acabar com o drible". "Só pedem pra tocar, tocar, desde a base. Também não poupa os atletas. "Os jogadores pegam a bola mano a mano e esperam alguém chegar para tocar de lado ou para trás".

Ele fala com propriedade. É um dos mais vitoriosos Meninos da Vila. Com 16 anos, disputou a Copa da Inglaterra.

Com tantos jogos robotizados, ele sofre ao assistir as (poucas) partidas, revela que quando se encontra com o amigo Pelé evita falar de futebol justamente para não "passarem raiva", mas deposita confiança em dias melhores. Presença assídua nos duelos do Santos na Vila Belmiro, aposta em vaga na Libertadores de 2019.

O futebol brasileiro perdeu o encanto?

Muito (risos). Muito mesmo. Se você vai no teatro, quer ver um bom espetáculo. Futebol também, mas hoje em dia se você der dois dribles já não pode, é menosprezo. Garrincha, Canhoteiro, Edu não jogariam no futebol de hoje. Naquela época, chegávamos com estádios cheios, lotados, todos juntos, sem separação de torcida. Hoje só tem torcida de um time, isso não existe. Machuca muito.

Rei dos dribles, acha que falta ousadia a nossas novas safras? A culpa seria de quem?

 Vem da base. Lá, você acompanha o trabalho e vê o treinador o tempo todo: toca, toca, toca… É muito do preparo do jogador e fica difícil surgir craque assim. Ter habilidade é essencial, o jovem tem de tentar algo diferente, por isso adoro Neymar, Messi, Rodrygo, Vinícius Júnior, que vão pra cima. Têm também o Cebolinha (Éverton, do Grêmio) e o Dudu, do Palmeiras. Se você vai para cima, já tira alguém da jogada e sempre sobra um companheiro livre. Antigamente era assim. A base do Santos beneficia a ousadia, por isso revela tanto, pois não visa esse lado só de toques. Se tem habilidade, vai para cima.

Então os treinadores inibem os dribles?

O treinador dá orientações, mas não tira a genialidade, não proíbe o drible. Acho que vai muito do jogador também, de o cara ser ousado dentro de campo. Eles não vão para cima, pegam a bola no mano a mano e param, não encaram, ficam esperando alguém chegar e tocam de lado ou para trás. O futebol fica chato sem drible, tanto que nem estou vendo tantos jogos.

Algum jogador no nosso futebol se assemelha ao que o Edu fez na carreira?

Hoje é muito difícil. Gosto do Neymar e do Messi, que estão lá fora. Cristiano Ronaldo é mais o estilo do Pelé, finalizador, sem tanto drible. Mas faz muitos gols. William e Hazard, do Chelsea, e Ribéry, são outros que ainda me fazem ficar na frente da televisão para ver futebol. Que coisa linda é o drible, quando jogava, a torcida ficava de pé para aplaudir. Mas acabaram com aquele romantismo.

 O Pelé anda com problemas de saúde e pouco sabemos sobre seu estado clínico. O senhor tem se encontrado e conversado com ele?

Não tenho falado muito com ele, mas está inteirão, com a saúde boa. Ele tem um problema na perna por não conseguir fazer o tratamento correto por causa dos tantos compromissos. Uma hora está na Arábia Saudita, outra na Índia, fica sem tempo para cuidar da saúde adequadamente.

 Mas nos encontros, ele anda dando pitacos no nosso futebol também? Cornetando alguém?

Difícil sobrar tempo para falarmos de futebol. Conversamos sobre outras coisas, procuramos evitar conversar sobre jogos, pois anda bem complicado, é até constrangedor para ele o que anda vendo. Com todo respeito aos jogadores atuais, mas anda difícil dizer que esse ou aquele é fera. Hoje não tem ídolo.  Qual o nosso ídolo? Você não vê um jovem dizer que quer ser como A, B ou C no nosso futebol. O ídolo (Neymar) foi embora, aqui no Brasil você não vê, não tem.

Depois da decepção na Copa do Mundo, optamos por disputar amistosos com seleções fracas, como El Salvador, Estados Unidos e Arábia Saudita. Acha correto? Não seria bom enfrentar os gigantes europeus?

Acho que não tem muita diferença. Temos de ver nossa seleção, não avaliar se o rival é fraco, e sim de quanto ganhamos, o que fizemos. Estamos no caminho certo. Após a Copa que perdemos aqui (2014), enfrentamos os melhores e ganhamos de todos eles. Somos os melhores do mundo e temos de manter a tradição de ser o país do futebol, sem ficar copiando os outros. Eles sim, vêm aqui para nos copiar. Deixe a seleção trabalhar, sem polêmicas.

 E como avalia esses recentes jogos da seleção brasileira?
 Jogos duros. Os adversários conhecem bem o Brasil, sabem da dificuldade de sair para nos atacar, então optam por fazer um ferrolho atrás, como fez a Argentina, e evitam dar espaços. Aí vai da nossa criatividade, e é difícil não acontecer um gol. Sabemos jogar, temos habilidade e estamos querendo vencer.
 O fato de o Neymar estar atuando mais como um meia no PSG atrapalha seu desempenho quando está com a seleção?

Nada a ver. Se joga mais centralizado ou como um ponta, vai aparecer do mesmo jeito, pois tem habilidade para criar. Cria e faz. Dia desses o PSG goleou, ele fez o dele e ainda participou com assistência de três gols do Mbappé. Claro que jogar num clube é uma coisa, na seleção é outra.

 Muitos criticam o Neymar por causa de suas vaidades, regalias e falta de cobrança mais rígida. Seriam esses os motivos para ele ter caído de produção?

Na seleção de 1970 tínhamos o Rei, que decidia. Mas o Pelé sabia que fazia parte do grupo e não se considerava o bambambam. Única coisa que vejo de errado no Neymar é que, às vezes, ele não facilita as jogadas. Toca e sai para receber, é habilidoso e com sua velocidade ninguém vai pará-lo. Mas ele prefere querer sofrer faltas. Alguém precisa chegar e pedir para ele facilitar, pois é um gênio, joga muita bola. Isso cabe aos técnicos. Dei conselhos a ele no Santos para não exagerar nos dribles. Passou por um, dois, não queira passar por quatro, cinco, faz a tabela, pois os zagueiros são lentos, diferentemente dos laterais, e ele vai sempre levar vantagem.

  O vê como um menino mimado?

Mimado, não. Acho ele hoje um homem, uma pessoa que sabe de suas responsabilidades, o que representa para nossa seleção. Mas existem os invejosos que querem criticá-lo.

Acha que o Brasileirão já está decidido para o Palmeiras?

O Palmeiras está num momento muito bom, numa crescente. Conta com um elenco muito forte, por isso chegou. Agora, manter esse ritmo normalmente é bem difícil e não dá para dizer que está decidido. O São Paulo estava no topo, sem ninguém por perto e caiu. O futebol é bonito, maravilhoso, encantador por proporcionar a quem não está bem se recuperar, subir e ir às finais, brigar por taças.

 O Santos poderia estar brigando pelo título brasileiro caso o Cuca tivesse chegado antes? Até onde vê essa equipe chegar?

O Santos vai entrar na zona de classificação à Libertadores. Mas não sei se foi pela chegada dele ou por causa da saída do outro treinador (Jair Ventura). O problema é que no início do Brasileirão o time perdeu muitos pontos bobos na Vila Belmiro. Não podia. A Vila é a casa do Santos, um alçapão, que os times já desciam com medo. Agora, descem sem problemas. O Santos tem uma sina de perder para os pequenos. Foi assim contra o América-MG aqui.

Como está vendo essa volta por cima do Gabigol na carreira?

Não digo uma volta por cima, apenas está marcando e atacante vive de gols. Ele passou por um momento ruim porque a bola não chegava. Mas o Santos fez uma contratação especial, esse Sanches joga muita bola. Um bom jogador que eu já admirava desde o River, da seleção do Uruguai, que cria e dá opções.

Seguindo no assunto Gabigol, o Santos tem de fazer loucuras para segurá-lo? Ou gostaria de vê-lo voltando à Europa para mostrar seu real valor?

Ele já tem compromisso com a Inter (de Milão), infelizmente não deseja continuar, quer voltar a jogar na Europa. Mas tem de chegar lá com os pés no chão, com humildade para reconquistar o espaço que perdeu. O Santos não tem como segurá-lo, a Inter vai pedir muito dinheiro.

O Corinthians pode cair?

Vai sofrer bastante. Vem de derrotas numa final e tem jogos complicados pela frente. Até pela cobrança do torcedor e pela pressão, precisa se reencontrar logo, senão será um fim de ano complicado.

 Como avalia o trabalho de Jair Ventura, que não foi bem no Santos e agora não engrena em outro gigante paulista?

Jair foi bom treinador para o Botafogo, pois na época conhecia todo mundo desde a base. Veio para o Santos e não conhecia ninguém, deixou o time lá embaixo, e também não faz bom trabalho no Corinthians. Pode vir a se tornar um grande treinador, mas o momento é ruim.

 Falando de outro treinador, Diego Aguirre estava muito bem no São Paulo, ganhou o primeiro turno e liderava. Agora, com a queda de produção do time, está sendo vaiado e já se questiona até a sua renovação para 2019. Os dirigentes não deveriam acreditar mais nos treinadores?

Na minha opinião, técnicos precisam conhecer o clube. O São Paulo foi lá fora, trouxe um uruguaio e tudo bem. Não é assim. Ele foi bem no Inter, mas tinha jogado lá. No São Paulo a coisa foi completamente distinta. Precisa saber da história de um clube. Ele chegou, deu uma acertadinha, mas o que faz agora?

 Sobre arbitragem, o senhor aprova o uso do VAR?

Acho legal, já que muitos lances o árbitro infelizmente não vê e a imprensa fica avaliando depois de voltar e repassar muitas vezes. Com o VAR os juízes vão ter a chance de ver onde erraram.

 Essa seria a saída, então, para evitar tantas polêmicas e erros dos nossos homens do apito?

Com certeza. Os árbitros dão pênalti sem convicção, ou às vezes interpretam que não foi. Com o VAR vão fugir das polêmicas.

PS – Entrevista feita pelo jornalista FÁBIO HÉCICO

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.