Felipe Melo é ídolo por que mesmo, hein?
Em 1985, eu era bancário. Caixa na agência do Hospital das Clínicas. Banespa, que nem existe mais. E recebi um convite para trabalhar na assessoria de imprensa da Secretaria do Interior. Aceitei na hora, troquei o certo pelo duvidoso. Foi a decisão mais correta que tive na vida. O secretário era dr Chopin Tavares de Lima, um homem admirável. Muito criativo, desenvolveu programas como Interior na Praia (crianças do interior passavam férias na praia) e Redescobrindo o Interior (crianças da capital passavam férias em cidades do interior). Eram experiências marcantes. João Dória, o novo governador, vai recriar a Secretaria do Interior.
Dr Chopin era também mordaz. Irônico ao extremo. Quando algum político que ele não gostava era muito elogiado (e ele não via justificativa), interrompia o interlocutor e dizia assim: "me diga uma coisa, caro amigo, Fulano de Tal é bom por que mesmo?".
É o que fico pensando a respeito de Felipe Melo. É ídolo do Palmeiras, por que mesmo? Certamente não é por suas qualidades. Um bom volante, com poder de marcação e com capacidade de iniciar jogadas, ao ter a bola dominada. Passa bem, consegue lançar e é até bonito ver as inversões de jogada que consegue.
Se Felipe Melo se contentasse com isso – que não é pouco – ajudaria muito mais o Palmeiras do que com suas outras "qualidades". Aquelas que a torcida aplaude e que só prejudicam o clube. Felipe Melo é o pitbull, o machão, o cara da Libertadores, o que seria o comandante do Palmeiras na busca do título. Ficou na promessa, ano passado e agora. Os dois momentos que o marcaram foram um murro na cara do jogador uruguaio e uma expulsão com três minutos de jogo contra o Cerro Porteño.
Nos jogos contra o Boca, esteve bem tecnicamente, mas, na Bombonera, o instinto falou mais alto. Não havia necessidade alguma daquela falta, com o pé quase na cabeça do rival. Weverton salvou, mas na cobrança do escanteio, Benedetto marcou, com falha conjunta de Felipe Melo e de Moisés. Em São Paulo, novamente estava jogando bem, mas, de maneira totalmente inexplicável, desistiu da jogada em que Benedetto marcou o segundo gol do Boca. Ninguém entendeu.
E no Brasileiro? Em um torneio de pontos corridos, a constância é a chave de tudo. E ele, pelo acúmulo de amarelos e vermelhos, deixou o time na mão algumas vezes. Nada que atrapalhe a conquista do título, que considero quase uma realidade, mas seu papel não foi preponderante.
Thiago Santos, que é menos técnico, teria dado mais ao Palmeiras do que Felipe Melo. Ou menos. Menos confusão. A verdade é que certa idolatria por Felipe Melo não se sustenta pelo que ele dá ao time, mesmo com seus belos passes.
Dr. Chopin, se gostasse de futebol, diria assim: "caro Beronha, esse Felipe Melo é ídolo por que mesmo, hein?"
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