Suecos homenageiam Pepe e Zagallo, 60 anos após o primeiro título mundial
Tudo começou com um contato inusitado de um fotógrafo, Paulo Villar, e de um apaixonado por literatura, Rodrigo Acciolly. Os cariocas e amigos idealizaram uma exposição fotográfica da personagem da literatura infantil Pippi Meia Longa. "A menina mais forte do Mundo", a amada ruivinha da escritora sueca Astrid Lindgren que há décadas encanta crianças e adultos no Mundo inteiro. Primeiramente, tiveram como cenário a Cidade Maravilhosa e, neste ano, inspirados, deram o título a nova exposição de: "Pippi em Santos – 60 anos da Copa de 1958."
Trouxeram a atriz Flávia Scanuffo que caiu como uma luva na personagem com sua ruivice, sardas e jeitinho brejeiro! E me solicitaram, com certa incredulidade, a participação especial de meu pai, o Pepe, em algumas fotos alusivas ao futebol. Meu pai era um personagem, um técnico de categorias de base. As fotos seriam aonde ele conhece bem – a Vila mais famosa do Mundo. Os cliques se estenderiam também ao Museu Pelé, aonde ele encontraria a ruivinha, por acaso, e contaria a respeito da Copa de 1958, na Suécia. E Pippi, curiosa que é, gostaria de aprender futebol também!
O enredo estava pronto e só faltava o sinal verde do meu pai. E ele aceitou com o maior prazer ser "modelo" das fotos. O cunho era artístico e cultural. Sob o sol escaldante, estava lá, meu pai, no gramado da Vila fotografando com a ruivinha Flávia vestida de Pippi e com os eufóricos Meninos da Vila. E ele, aos 83 anos, era um dos mais entusiasmados. A cada clique, pedia logo ao fotógrafo Paulo Villar que queria ver o resultado. E reclamava quando achava que não estava fotogênico.
Em seguida veio a exposição no Museu Pelé e assim a amizade surgiu. Paulo Villar e Rodrigo Acciolly, confessos admiradores do Canhão da Vila, sabiam da intenção da Federação de Futebol Sueco de homenagear os remanescentes ídolos daquela histórica Copa de 58. Eram 60 anos de descobrimento de um menino chamado Pelé e de uma seleção que encantou o mundo.
Unindo esforços com Elisa da BrazilCham Sweden, houve a primeira carta-convite da Associação Sueca de Futebol (SvFF) e da Brazil Cham Sweden à CBF, extensiva aos campeões mundiais. E com uma informação importante confidenciada a mim: que eles seriam
nomeados Membros Honorários Vitalícios da Associação Sueca de Futebol. Pela primeira vez esse título seria concedido a cidadãos "não suecos".
Porém, a indefinição da viagem prevaleceu até a semana anterior a data prevista. As passagens foram emitidas e o acontecimento se tomava realidade. Não era tarefa simples, Meu pai, aos 83 anos, teria que enfrentar mais de 13 hs de viagem com conexão em
Amsterdam! Minha mãe nem cogitou de viajar tamanha distância. Assim, fui convidada a
acompanhá-lo. Que esforço hein!
E meu pai enfrentou muitíssimo bem mais um desafio..Chegamos em Estocolmo com temperatura congelante. E só isso já o deixou muito satisfeito, pois prefere o Inverno ao Verão. Àquela altura, sua curiosidade era sobre os amigos da seleção. Sabia que só havia seis ainda vivos. e queria desfrutar daquele retorno à Suécia com eles. Nada mais justo e emocionante!
Mas Rodrigo Acciolly lhe explicou que Mazolla, que reside na Itália, não pode comparecer, Moacir, que mora no Equador, não está bem de saúde. O mesmo ocorre com os ex companheiros Pelé, Dino Sani e Zagallo. Então era só ele, além da representante do Rei Pelé, sua simpática filha Flávia Kutz Nascimento e de um vídeo gravado na casa de Zagallo para ser passado nos eventos.
Felizmente tivemos a visita do amigo Cabralzinho, ex jogador e treinador do SFC. Ele mora há seis anos em Estocolmo e já "asuecado" como ele mesmo diz, se prontificou a nos mostrar a linda capital. Os passeios com Cabralzinho foram extremamente prazerosos! Um gentleman sempre buscando priorizar o bate papo inteligente e nos contar sobre a cultura do país do que as andanças pela grande cidade para não cansar muito o Canhão. Às vezes eu tinha que lembrar que já estava escurecendo, às 14h30, e não seria mais possível tirar fotos. Ele nos mostrou algumas estações de metrô que são verdadeiros museus. Fomos a Gamla Stan, escolhi como
meu lugar preferido, com suas ruelas, lojas, cafés e restaurantes charmosos, a prefeitura, a Catedral de Stocolmo com a imagem de São Jorge mais linda que já vi – logo lembrei de minha mãe que é devota dele – e o Palácio Real. Certamente tínhamos que ficar muito mais que sete dias para conhecer bem.. Mas não podíamos esquecer também que meu pai estava lá para
compromissos "oficiais".
Houve também admiradores suecos que descobriram o nosso hotel para conhecer meu pai. Traziam em mãos álbuns de figurinhas antigas, revistas com fotos, verdadeiras relíquias. Um deles, talvez o mais fanático, Johan Von Friedrichs, emocionou-se. Recebi mensagens de suecos do sul do país querendo viajar para Estocolmo para conhecê-lo. Mas só vi a mensagem quando estávamos para deixar o hotel.
Mas vamos as formalidades: Primeiro, um jantar de boas vindas para as apresentações. Além do foco na memória esportiva de 1958 – marco fundamental da amizade Brasil-Suécia -, uma segunda parte voltada para as fortes relações bilaterais nos âmbitos comercial e e
tecnológica do ponto de vista das estratégias parcerias estratégicas em curso, com presença de alguns dos principais entes políticos e militares – Ministérios de Defesa / Forças Aéreas – das duas nações, além de dirigentes de algumas das maiores empresas das duas
nações, com foco na maior de todas: a produção dos caças Gripen NG, interação virtuosa com elevados investimentos já em curso.
No dia 12 de novembro, os participantes suecos e brasileiros (Pepe e Flávia Kutz Nascimento) de 1958 foram recebidos – no Ericsson Globe, durante a Gala do Futebol Sueco Fotbollsgalan 2018 – uma distinção sem precedente: a Nomeação para Membros Honorários Vitalícios da Associação Sueca de Fuebol (SvFF), resultado da colaboração do presidente da entidade máxima do futebol sueco, Karl-Erik Nilsson e da diretora executiva da BrazilCham Sweden, Elisa Sohlman.
O evento extremamente luxuoso e bem produzido foi transmiitido ao vivo na Tv. É bonito ver como o ídolo na Suécia é reverenciado para sempre. Eles demonstraram muita admiração e, acima de tudo, respeito ao meu pai e pelos remanescentes vice campeões suecos. São apenas quatro vivos daquela Copa. Um deles, Owe Ohlsson, abraçou meu pai e contou que completara 80 anos e na época era o caçula do grupo com apenas 19 anos. Chamado ao palco ao lado de Flávia Kutz e de Owe assistiram ao vídeo do depoimento de Zagallo imagens daquela Copa que já viram tantas vezes, mas ali na Suécia diante de um público de 2 mil pessoas, tinham um sabor especial.
No dia seguinte, 13, a BrazilCham Sweden realizou no salão The Royal Armory, no Palácio Real da Suécia a Cerimônia "Brazil – Sweden: Memorable Past, Innovating for the Future", na presença do Brigadeiro do Ar Vincent Dang e do representante da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Gustavo Vieira. A cerimônia, apresentada pelo jornalista Pelle Thörnberg (o mais famoso apresentador de TV da Suécia) rememorou a Copa de 58 como um dos momentos mais relevantes da história do esporte no Brasil e na Suécia. Neste evento se reencontraram dois dos remanescentes dos times brasileiro e sueco -Pepe e Reino Börjesson, além de Bengt Ågren, Secretario Geral da Copa de 1958. Também foi exibido um depoimento exclusivo – captado pela M31 Produções –
do vencedor de quatro Copas do Mundo (como jogador, técnico e coordenador), Mario Jorge Lobo "Zagallo", 87 anos, sobre sua participação naquele mundial.
Em um papo informal com Börjesson, meu pai contou que dos 22 integrantes da Seleção Brasileira, apenas seis estão
vivos. Ele respondeu espirituoso: "da nossa seleção são 4! Vocês Vocês venceram de novo: 6 a 4!
Houve explanações comerciais e tecnológicas na língua sueca e em inglês. Mas, sem dúvida nenhuma o ápice se deu quando meu pai subiu ao palco, respondeu curiosidades daquele Mundial, e ao final, já nos agradecimentos, lembrou que eram 22 jogadores e ofereceu todas aquelas honrarias aos companheiros que não puderam ir e aos que já se foram. Todos ficaram comovidos. Foi aplaudido de pé por políticos e militares das duas nações.
Mais 13 horas e tanto de viagem de volta, Deixamos uma cidade linda, limpa, organizada, onde carro é luxo, já que o transporte público funciona ou as pessoas preferem se locomover de patinetes e bicicletas. Deixamos pessoas atenciosas e carinhosas na Suécia e em várias cantos do Brasil. Vivemos momentos únicos. Uma personagem infantil da Escandinávia que uniu Brasil e Suécia mais uma vez. Desta vez, em 2018. Sessenta anos depois. Prova que a Suécia tem memória, gratidão e é um país extremamente nobre nas atitudes. Nunca deixou de enaltecer o Brasil, mesmo sabendo que ficou em segundo lugar.
Gislaine Macia, jornalista, escritora e filha de Pepe
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