Meio sol amarelo (1/40)
A Bahia já me deu
Graças a Deus,
Régua e Compasso
Quem sabe de mim sou eu
Aquele abraço.
O genial Gil homenageia neste samba antológico toda a bagagem intelectual, amorosa, emocional e sabe-se mais o que recebida em sua aldeia e que lhe possibilitou conquistar o mundo.
A metáfora serve para a nigeriana Chimamanda Ngozie Adichie, famosa em todo o mundo por livros que falam de seu país, de negritude e, mais recentemente, de feminismo.
Mas ao ler Meio Sol Amarelo, a imagem de régua e compasso passa a ser real. Pouca metáfora e muita literalidade. É possível ver as potências coloniais detalhando a África conforme seus interesses, sem respeitar séculos de existência e cultura.
E tome Ruanda, abrigando as etnias hutus e tutsis. E aí está a Nigéria, com hauçás e Ibis. Inimigos ancestrais, unidos por conveniência alheia.
O resultado? Guerra, massacre, genocídio, fome.
É o que Chimamanda conta. Na Nigéria, os Ibis deram um golpe de estado. Sofreram outro, meses depois. E, católicos, passaram a ser perseguidos pelos muçulmanos hauçás.
Resolveram fundar seu país. Biafra nasceu em 1967, com sua linda bandeira com meio solicitar amarelo, e viveu até 1970. Vencida pela fome. As imagens de crianças biafrenses impactaram o mundo, mesmo "concorrendo" com imagens do Vietnã.
Mas o livro não é um relato da guerra, não é um tratado, não é frio.
É uma saga, maravilhosamente bem escrita, baseada em cinco personagens.
Odenigbo – professor de Matemática e ardoroso defensor da etnia igbo e de Biafra.
Olana – professora de sociologia, vive com Odenigbo e também luta por Biafra.
Kainene – irmã gêmea de Olana, pragmática e responsável pelos negócios da família.
Richard – inglês aspirante a escritor e marido de Kainene.
Ugwu – garoto de 13 anos que deixa a família na zona rural para trabalhar na casa de Odenigbo e Olana.
A guerra vai mudar todos eles. Para pior. E para melhor.
Chimamanda é ótima.
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