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Trajano lança novo livro e vê a ESPN com desalento

Menon

28/02/2019 11h53

"Aqueles olhos verdes" será lançado no segundo semestre. É o quarto livro de José Trajano. Mistura ficção e realidade, envolvendo um longo período da história do Brasil. E tudo baseado em Rio das Flores, cidade que o tijucano Trajano adora.

"Eu vou do Getúlio de 1938 ate o Jango de 1962, misturando política e futebol. Lá, na minha cidade tem um time, o "Rio das Flor", porque o pessoal não usa o plural. Então, como pano de fundo, Puskas, Zizinho e outros passam por lá. Ficou um belo painel, um bundalelê legal e estou gostando muito".

Além do livro, Trajano tem programa na TVT, podcast na Central Três e seu canal, o Ultrajano, em todas as mídias sociais. Trabalha muito e da ESPN, casa que criou no Brasil, vê apenas o campeonato inglês,por bons motivos. "O campeonato é bom, sou torcedor do Arsenal e meu filho trabalha lá. Fora disso, não vejo mais nada. Prefiro ler o Tostão na Folha e vários blogs. Pronto, já me considero bem informado e vou cuidar da vida. Trabalhar e namorar".

Mas, Trajano, qual é sua relação hoje com a ESPN?

Criei a ESPN e fiquei lá por 20 anos. Então, quando terminaram meu contrato que ainda tinha um ano e meio para vencer, fiquei aborrecido, virei um viúvo da casa, mas hoje passou. Não vejo mais nada. Não tenho ódio e nem raiva, tenho desalento com o caminho da programação. É praticamente um programa só. O que muda é o cenário e um pouco os assuntos. É debate o dia todo. Até o Linha de Passe virou carne de vaca. Tem todo o dia, antes a turma esperava uma semana para ver o programa, agora perdeu essa nobreza, virou algo corriqueiro.

O que falta?

Falta tirar a bunda da cadeira e fazer reportagem, fazer programas diferentes. Colocar repórter na rua, ter uma proposta de televisão mais atraente, que não seja ligada apenas em números. Nosso lema era "Informação é nosso esporte" e não é mais assim". Fizeram esforço zero para manter uma repórter como a Camila Matoso. Eu até acho que ela sairia mesmo, porque merecia vôos mais altos, está aí na cola do Bolsonaro, mas não se esforçaram para ficar com ela.

Você lamenta o fim de programas como o Brasil da Copa do Brasil e Grandes Momentos do Esporte. Mas eu tive informações de que eram programas com índices baixíssimos de audiência..

Olha, hoje no Brasil se toca muito mais uma dupla sertaneja de quinta categoria do que Chico Buarque ou Edu Lobo. O que é mais importante? O que é melhor? Se tocassem mais música boa, a música ruim perderia espaço, não é?

Apesar de declarar findo o seu período de viuvez, Trajano ainda opina, via twitter, sobre acontecimentos da ESPN. Ele não vê uma contradição. "Não é tanto assim. Eu apenas lamento e ironizo algumas situações, como a demissão do Dudu Monsanto após 14 anos de casa. Lamento a saída de um jornalista como Helvídio Mattos, que considerei uma facada no jornalismo. Então, me posiciono sim".

E a sua saída, como foi?

Eu não era mais CLT, ganhava por programa. Romperam o contrato quando ainda faltava um ano e meio para seu final. Me pagaram uma multa, mas era menor do que o que eu ainda teria de receber até o final. Eu só participava do Linha de Passe nas segundas e sextas. O que eu receberia por essas participações até o final do contrato foi menos do que a multa. Foi ruim, porque, embora tenha recebido um dinheiro na mão, a vida fica descontrolada. Tudo o que estava programado, viagem, tratamento dentário, seja o que for, fica abalado. É muito de repente, um baque.

E as outras demissões?

Olha, todo mundo que era considerado a "Turma do Trajano" está saindo. Não é uma turma ideológica ou coisa assim. Era a turma que fundou a emissora. Gente como o Salim, o Edu Souza e muitos outros produtores, que enfrentou muita situação ruim no começo e ficou mantendo a ESPN no ar, como referência. Estão sendo trocados por uma garotada que aceita ganhar metade do salário, às vezes um terço. É muito triste.

E a venda da Fox, como você vê?

Olha, é preocupante para mo mercado. A ESPN não vai poder absorver todo mundo da Fox. E quem vai comprar a Fox? O Sportv também não pode, pelos mesmos motivos de concentração. O CADE não autorizaria. E há um mundo novo vindo por aí, com o streaming. Não se sabe o que virá.

Como assim?

Empresas como a DAZN estão chegando forte. Compraram a Sul-Americana,  campeonato francês e o italiano. E boxe. Sabe como eu vi o jogo do Santos com o River? No celular, comendo queijo e bebendo vinho. Sem tevê aberta e sem tevê a cabo. É um caminho novo. O torcedor não precisa mais ficar com a bunda no sofá para ver futebol, ele pode fazer isso no trabalho, no lazer…

Sua demissão teve a ver com o Danilo Gentili?

Acho que sim. Eu critiquei no ar a produção que havia convidado o Gentili para ir ao canal. Olha, se fosse em outro local, talvez eu não falaria nada, eu sei me comportar, seria mais cauteloso. Mas, no canal que eu criei, com a situação que o Brasil vive e com 72 anos de idade, eu não vou ficar calado. Eles disseram que esteja onde estiver, eu sou o Trajano da ESPN. Não concordo. Tem o Trajano cidadão também. Está na hora de o jornalista esportivo se posicionar sobre tudo. O Brasil está do jeito que está e eu vou ficar falando em duas linhas de quatro das oito da manhã até a hora de dormir?

 

 

 

 

 

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.