Nós (10/70)
Corra, vá assistir Nós.
Desculpem, mas não resisti ao trocadilho com os dois ótimos filmes de Jordan Peele. Trocadilho, mas o conselho é válido. O filme é ótimo.
Há muitos níveis de entendimento, muitas formas a serem exploradas, mas eu, por absoluta incapacidade intelectual, vou me restringir à mais simples: um filme de defesa do lar, do habitat.
Uma família vê sua casa invadida por estranhos e se defende com violência inesperada. Lembram de Sob o domínio do medo, de Dustin Hoffman?
Mas – e aí começam outras leituras – os invasores são muito estranhos e também muito comuns.
São réplicas da família: o pai grandalhão, a mãe frágil, a filha corredora e o filho com déficit de atenção.
Réplicas mal feitas. A mulher fala com dificuldades. O marido solta gritos e grunhidos, a filha tem um olhar abobado e o filho, em vez de usar máscara de monstro, como o original, usa máscara de pano que cobre queimaduras terríveis. E anda de quatro.
Dois pontos altos do filme mostram diálogos tensos entre as duas mulheres. Lupita Nyongo é espetacular, dialogando consigo mesma.
Uma das conversas dá margem a muitas interpretações.
Algemada no sofá, diante da invasora, ela, desesperada, pergunta:
Quem são vocês?
Nós somos americanos.
Entenderam? Me expliquem.
O mal está dentro de nós? Somos inimigos de nós mesmos? A América está tomada por monstros?
Os invasores têm tesouras como armas. Tesouras têm uma falsa simetria. É uma mensagem subliminar?
Não sei, amigos.
Não fico buscando muitas explicações não. Gosto é de sustos.
Entre tesouras e espelhos, o filme é espetacular. E com uma grande surpresa no final.
Corram!!!
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