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Vadão é o culpado. Empoderamento ou coitadismo?

Menon

07/06/2019 19h29

Se o Brasil for eliminado da Copa, o culpado será Vadão. As jogadoras serão poupadas.

Se o Brasil for campeão do mundo, será apesar de Vadão. Ele é o homem marcado para morrer. Nunca terá mérito.

Bem, as nove derrotas seguidas ajudam nesse tipo de raciocínio. Mas há outro lado, a meu ver. Um empoderamento que aceita o coitadismo. Que deve ser  – ou deveria ser – um antídoto contra o coitadismo.

Uma digressão, me permitam.

O professor Antônio Cândido listou três itens necessários para que se possa falar na existência de literatura em um país.

1) É necessário que algum habitante do país escreva uma obra.

2) É necessário que alguém leia a obra.

3) Para que alguém leia o que alguém escreveu, é necessário que alguém imprima a obra.

Fazendo uma relação com o futebol feminino no Brasil, vemos que, de 30 anos para cá, no mínimo, há jogadoras. E há quem goste de ver.

O que faltava?

Alguém que promovesse campeonatos, alguém que desse condições de trabalho para as jogadoras. Não se trata de glamour. Apenas de emprego para que possam viver de seu talento. Em seu país.

Nesse contexto, é até normal que as jogadoras angariassem muita simpatia. São chamadas de guerreiras, de lutadoras e "meninas".

Bem, as coisas estão mudando. A Fifa dobrou a premiação. A diferença continua grande em relação ao masculino (13 vezes) mas é uma questão de business e não de gênero.

A CBF proporcionou uma boa preparação. E o futebol feminino está ganhando corpo também estruturalmente. Já há campeonatos. Os clubes são obrigados a ter futebol feminino. Já há – o mais importante neste momento em que o País vive – emprego.

Então, está na hora de empoderamento. De saudar os novos tempos. E o melhor modo é deixar o coitadismo de lado. Nada de guerreiras, nada de meninas do Brasil, nada de sofridas. Atletas, apenas.

A melhor maneira de ajudar o futebol feminino é fazer uma análise fria, como no masculino. Que uma jogadora possa ser criticada como foram Neymar, Fernandinho, David Luis, Bernard, Taison, Fred, Willian…

Se alguém disser que Marta está em fase decrescente na carreira, que seja confrontado no plano analítico e não tratado com ódio por haver questionado a Rainha.

Não se pode poupar de críticas as jogadoras da seleção. Justamente por serem jogadoras e não meninas, guerreiras, lutadoras.

Empoderamento é respeito.

E respeito é o que sempre pediram.

E, se a culpa realmente for do Varão.

Pau nele.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.