Brasil precisa de rebeldia contra o Modelo de Tite
"Vai lá e arrebenta".
"Entra e acaba com eles"
"Chegou sua hora. Faz o que você sabe".
São frases antigas do futebol. Referem-se a substituições. O time está perdendo e coloca um atacante com capacidade de improvisação e de dribles.
Frases de um futebol que não há mais. Treinadores como Telê seriam considerados obsoletos. Qual era seu princípio de trabalho? Melhorar sempre e sempre os fundamentos. Saber chutar, saber cruzar, saber passar. E fazer de tudo para colocar os onze melhores do elenco em campo.
O que mais lamento na derrota de 82 foi o abandono da ideia de ter um meio campo com os melhores. Cerezo e Falcão mais atrás. Sócrates e Zico adiantados. Com direito a gol de Falcão.
"Bota ponta, Telê", dizia Zé da Galera, personagem de Jô Soares. Estava ultrapassado. Hoje, seria atual.
Hoje, com Tite, temos dois pontas abertos, alargando e esticando o campo. Profundidade e amplitude. Estáticos, como jogadores de pebolim.
Prontos para o ataque posicional, com opção para triangulações. Um deles fica esquecido, até receber um passe para tentar o drible ou a definição.
O mapa de calor de David Neres e Lucas Moura em jogos da seleção difere muito daquele exibido em seus clubes, quando se movimentam muito mais.
É tudo muito organizado, estruturado, treinado. Sem nenhum plano B. Não existe a rebeldia, o estalo, o diferente.
Tenho a impressão que, quando Tite coloca um jogador em campo, fala algo do tipo: "lembra do treino de terça-feira? Parte três da lição quatro? Execute.
Em 2001, nas finais do campeonato paulista, Ricardinho, do Corinthians, jogou com um ponto no ouvido. Para escutar orientações de Luxemburgo, o treinador.
É o suprassumo da hipervalorização de um treinador. O jogador seria apenas o executor de suas genialidades.
Hoje, o jogador é escalado por sua maior capacidade de executar O Conceito. Ou sua maior maleabilidade ao Sistema.
Só que o Conceito, o Sistema, o Modelo, têm sido derrotados por Panamá, Venezuela e Paraguai.
Falta rebeldia. Marcelo, por exemplo, foi mal em duas Copas e dá lugar a Filipe Luís, eterno reserva. O Conceito é mais importante.
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