Corinthians: preconceito estúpido e marketing oportunista
UOL Esporte
28/02/2013 12h56
A estúpida morte de Kevin, garoto boliviano de 14 anos, teve como conseqüência o afloramento do preconceito de classe contra os corintianos. Torcedores de outros times imediatamente usaram a tática de tomar a parte pelo todo. Se um corintiano soltou um sinalizador que matou um boliviano, todo corintiano é assassino. Muitos desses que apontam o dedo, aplaudiriam com as duas mãos uma invasão da Bolívia pelo Brasil, sob qualquer arremedo de justificativa.
Os torcedores que foram à Justiça buscar seus direitos de ver um jogo pelo qual haviam pago alta quantia são tratados como burladores da Lei, quando estão, apenas e tão somente buscando auxilio na Lei.
O preconceito com os corintianos vai além da questão do sinalizador. Passa pelos marginais que deram cano em um hotel. A partir daí, todo corintiano é ladrão, todo corintiano leva uma imagem ruim do Brasil para além de nossas fronteiras. Seria o mesmo que dizer que todo torcedor são-paulino é um assassino porque o rapaz que matou aquela garota Eloá, de 15 anos, vestia uma camisa do São Paulo.
Na verdade, não é um preconceito contra o corintiano. É contra o povo pobre. Sim, porque os acusadores identificam a torcida corintiana como a das classes sociais menos favorecidas. É mesmo, mas também é maioria entre os ricos. Entre os remediados. Os corintianos são maioria nos presídios mas também o são na Academia. Entre os cientistas, médicos, advogados, jornalistas, proxenetas, rufiões, em Itaquera e Jardim Europa, a maioria é corintiana. Na Parada Gay ou no conclave que escolherá o novo Papa, a maioria é Fiel.
E quem pode garantir que um banqueiro é melhor que um batedor de carteiras? Tenho mais medo dos juros do meu cartão de crédito do que de ser afanado na 25 de março. Muito dessa antipatia e preconceito contra os corintianos tem a ver, porém, com uma postura adotada por eles mesmos.
A idéia veio de Luis Paulo Rosenberg, economista que participou do fatídico governo Sarney. Ele, que é judeu – e quem foi mais perseguido do que os judeus na história da Humanidade, basta se lembrar dos genocídios da segunda guerra? – sempre teve atitudes preconceituosas contra outros clubes. Atitudes homofóbicas que nem vou repetir aqui.
Rosenberg, como diretor de marketing, cunhou também o conceito da nação corintiana, do nós contra eles, do isolamento. Aí, nascem bobagens como a República Popular Corintiana, como aquela propaganda da Nike, como a teoria dos antis. Somos nós de um lado e eles do outro. Como se nenhum corintiano houvesse um dia secado os adversários. Eu conheço um que pediu folga no jornal e, vestido com a camisa do Boca, foi ao Morumbi torcer contra o São Paulo, no meio da hinchada argentina. Direito dele, é claro. Mas não venha me falar em anti.
Ora, se você é tão diferente, pertence a outro país, tem ritos próprios, porque vai querer a simpatia dos outros agora? O marketing corintiano – e nem digo que está errado – aproveitou-se e muito do amor do corintiano por seu clube. Potencializou esse amálgama. Nunca vou te abandonar, sou um outro país, as outras torcidas não prestam etc etc etc. Usou e abusou do conceito de que clube e torcida são a mesma coisa. Uma é o braço da outra. É nóis. Tamos juntos, somos um povo sofrido, perseguido, eleito blábláblá….
Ora, isso é o que diz o direito desportivo: a torcida é patrimônio do clube, é extensão do clube. Então, como reclamar agora que o clube é punido quando um de seus torcedores comete um assassinato em praça pública?. A Conmebol é péssima. Mais do que péssima, mas nunca se viu antes de frente com uma morte em campo. E, bem ou mal está se mexendo. Vai tomar atitude contra o vandalismo ocorrido no jogo entre Peñarol e Velez.
Acho que as coisas estão bem dosadas. No aspecto criminal vai ser punido apenas o torcedor. No aspecto esportivo, pune-se o clube. Faltou, na minha opinião, punição ao San Jose. Quanto à dosimetria, não posso dizer nada. Não sei o que diz a lei da Conmebol e nem o que diz a lei da República Popular do Corinthians.
Sobre o Autor
Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.