Marin é muito pior que Feliciano
Menon
10/04/2013 19h36
É triste, mas é verdade. Os mandatos do pastor Marco Feliciano e de José Maria Marin, à frente do Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados e da CBF, respectivamente, são legítimas. Refletem uma parcela dos brasileiros e do futebol brasileiro.
Feliciano acredita que os africanos são amaldiçoados por Deus. Diz que Jesus Cristo matou John Lennon, autor da célebre frase "somos mais populares que Jesus Cristo", referindo-se aos Beatles e que um anjo fez cair o avião em que estavam os Mamonas Assasinas em 1996. Motivo? Eles "colocavam palavras torpes na boca de nossas crianças".
Muita ignorância, a volta às trevas. Mas é necessário respeitar os votos que o deputado teve. Os votos das pessoas que elegeram o paspalho são tão válidos e importantes como o meu e de quem estiver lendo aqui. Um homem, um voto. Esse é o principal pilar da democracia pela qual tanto lutamos.
Eleito deputado, ele não colocou uma arma na cabeça de ninguém para ser escolhido presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Foi uma eleição legítima.
E Marin? Se Feliciano é, digamos, um "preço a pagar" pela democracia, Marin é a cara escarrada da ditadura. Foi assim, como vice-governador escolhido – nunca eleito – que assumiu o governo do Estado de São Paulo lá em 1982. Era vice de Maluf. Era vice também de Ricardo Teixeira, o novo rei de Miami, e assumiu o lugar quando de sua renúncia.
É um homem de sorte. O poder e suas benesses caem em seu colo sem que se esforce para isso. É lógico que, para isso, faz coisas que pessoas decentes não fariam. Mas isso não o afeta. Elogiar, em plena ditadura, o torturador Sergio Fleury não significa nada para ele. Nada de ruim. Ele realmente o considerava um grande brasileiro. Levar o dedo indicador rumo a TV Cultura e Vladimir Herzog também. Hoje, na Folha, ele diz que fez um aparte reclamando que a TV Cultura não mostrava mais as obras do governador de então. Vejam só o tipo de jornalismo que ele exigia: louvatório, bajulativo.
A sociedade civil está se movimentando pela queda de Feliciano e suas posições homofóbicas e racistas. Com passeatas, selinhos de artistas, exposição pública, artistas e deputados pedem a saída do homem das trevas. É uma reação natural. Feliciano não representa a maior parte da população brasileira. É o que espero.
Quanto a Marin, os protestos são menores. Menos barulhentos. Alguns jornalistas, como o incansável Juca Kfouri, o surpreendente deputado Romário e Ivo Herzog, filho de Vladmir e agora, Aldo Rebelo.
E por que a movimentação contra Marin é menor? Porque, ao contrário de Feliciano, que não representa a sociedade brasileira, ele é a cara do futebol brasileiro. Donos das federações, verdadeiros feudos por aí, pensam diferente de Marin? Marco Polo del Nero é diferente dele? Ronaldo, Bebeto?
A direção do futebol brasileiro é mais atrasada do que a sociedade brasileira. Ela já passou por um processo de luta por eleições diretas, por exemplo. O futebol, ao contrário, ainda está no tempo das trevas. Não saiu da ditadura. Por isso, Marin, que é muito pior que o folclórico e ridículo Feliciano, está aí, todo lampeiro.
É hora de reagir. Fora Marin. Fora Feliciano.
Sobre o Autor
Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.