Palmeiras cai com dignidade e pouca bola.
Menon
15/05/2013 01h27
A eliminação do Palmeiras leva a uma reflexão: existe jogo de Libertadores? Partidas em que o suor deve substituir o talento, a corrida desabalada é usada para tampar espaços deixados pelo mau posicionamento, o corpo-a-corpo é mais importante o passe? A correria vale mais que o jogo pausado?
Libertadores é assim mesmo, ou futebol é futebol seja qual for o torneio? É lógico que em jogos decisivos é muito mais importante ter concentração, ter disposição, não ter medo, mas nada disso substitui os princípios básicos do futebol: posse de bola, passes de nível, velocidade, drible, chute a gol….
O Palmeiras se esqueceu disso. Tinha 90 minutos para vencer o jogo. E parecia ter a necessidade de resolver a parada em 15 minutos. Entrou muito pilhado em campo. Parecia o Botafogo de 2008, aquele do velho Cuca. Em um jogo contra o São Paulo, ainda no início do segundo turno, entrou como se fosse uma questão de vida ou morte. Deu pontapés em quantidade industrial e terminou perdendo.
É verdade que o Palmeiras não é um time técnico. Tem problemas de elenco e muito de bom que mostrou esse ano foi baseado em jornadas surpreendentes de garotos como Vinícius e Leandro, que não está inscrito na Libertadores. Como é raçudo e não tem técnica, o certo seria Gilson Kleina acalmar o time e tentar melhorar o futebol. Preferiu apostar na adrenalina a mil. Foi pouco.
Vamos lembrar que raça por raça não resolve nada. A Espanha, quando era conhecida por Fúria, não ganhava nada. O Uruguai só dava vexames até voltar a jogar bem em 2010. E quem disser que o time de Obdulio, Schiaffino, Ghiggia e Ambrois de 1950 era raça pura está enganado. Mesmo Obdúlio era um grande jogador.
Quem entra muito pilhado e não consegue resolver a situação rapidamente, começa a fraquejar. Com o Palmeiras foi ainda pior. Além de o gol não sair, a equipe sofreu aquele em um erro terrível do Bruno. Um dos maiores frangos da história do futebol mundial.
Então, um time muito nervoso e de pouca qualidade técnica – pelo menos ontem – passou a perder o jogo. E ficou ainda mais nervoso. E passou a jogar cada vez mais aceleradamente. E a errar mais. E veio o segundo gol. E o Palmeiras virou um amontoado, com Henrique no ataque. O que mais poderia fazer se o presidente um dia antes do jogo pedia "sangue nas veias" para os jogadores?
Fez um gol em pênalti que não houve e teve um gol anulado injustamente. Quase levou o terceiro em um contra-ataque e começou a sufocar o Tijuana. Se o Palmeiras virasse o jogo, seria algo heróico. Mas esse Palmeiras não é sempre heróico quando vence? E isso não é bom. Time bom não é heroico. Ganha com facilidade, não dá sustos.
Ao Palmeiras, cabe agora a disputa da segunda divisão. Vai subir com um pé nas costas. Tem um estilo de jogo apropriado àquela competição. Vai subir com possibilidade de alcançar marcas recentes como as do Corinthians em 2008 e a Portuguesa de 2011.
Depois, é outra história.
Por enquanto, o que se pode dizer é que o Palmeiras caiu no conto da Libertadores. Tinha tudo para chegar às quartas-de-final, algo que ninguém esperava antes do início do campeonato. Para isso, precisava apenas jogar bola. Preferiu atuar com vontade e desorganização. Talvez seja o que sabe fazer de melhor. É insuficiente, por mais que a torcida aplauda, para honrar a história do clube.
Sobre o Autor
Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.