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Solidário e engajado, Eguren não sonha em ser ídolo

Menon

18/07/2013 19h17

Sebastián Eguren tem tudo para se tornar ídolo da torcida palmeirense, embora essa não seja sua meta. Com discurso articulado fora do campo e muita disposição dentro dele, o uruguaio de 32 anos só pensa mesmo em levar – ajudar a levar, ele faz questão da diferença – o Palmeiras à Série A. O resto fica para depois. Ainda terá um ano de contrato para provar – ajudar a provar – que o jogador uruguaio merece respeito e sabe respeitar seu país.

Abaixo, a entrevista

Você sonha em ouvir a torcida do Palmeiras gritar seu nome?

Seria tentador, é lógico, mas não seria o ideal. Eu sou um volante de marcação e se a torcida estiver gritando meu nome, me tiver como ídolo é porque o time vai mal. Ídolo tem  de ser o 10 ou o 9, não o número cinco.

Mas para o Uruguai o número cinco tem outra mística, diferente do Brasil.

Sim, diferente da Argentina também. Por dois motivos: nós temos um futebol muito mais defensivo, de muito mais luta e por Obdulio Varela, que jogava ali, como volante central. Como eu jogo, apesar de jogar também com apenas um outro homem na proteção.

Essa figura do caudilho te impressiona muito?

Sim, todo garoto uruguaio gosta da história de Obdulio Varela. Quando pequeno, gostava muito de Dunga, mas também gosto de Fernando Redondo, que é muito mais clássico.

Mas você veste bem essa mística do caudilho? Gosta de ser o caudilho?

Sim, mas é preciso ter cuidado com essas coisas O Palmeiras tem um capitão. O Palmeiras tem quatro ou cinco ídolos. Minha colaboração é fazer o time jogar, me dedicar. Isso nunca vai faltar de minha parte.

Como é chegar o Brasil aos 32 anos?

Uma realização. Um orgulho. Esse país tem milhões de jogadores e jogadores muito habilidosos. É difícil conquistar uma vaga aqui. Se eu estou aqui é porque estou provando uma vez mais o valor do futebol uruguaio. Nosso país tem 3 milhões de habitantes, menor que um bairro qualquer de São Paulo. E todos somos técnicos de futebol. E todos somos presidentes.

E quem está melhor, Tabarez como treinador ou Mujica como presidente?

Os dois estão muito bem. Mujica tem avançado muito na questão social. A igualdade total é uma utopia, um sonho, mas com ele algumas coisas boas tem acontecido nessa área. E também o lado comportamental. Aprovamos o aborto, que é algo importante, a mulher é dona de seu corpo e também  fizemos a descriminalização da maconha. As leis precisam ainda ser aperfeiçoadas mas foi um bom passo.

Diego Lugano fez muito sucesso no São Paulo. Você pretende algo igual?

Diego é ídolo porque venceu a Libertadores e o Mundial. Se eu vencesse, também seria. Diego é ótimo, mas não ganhou sozinho. O importante é o grupo estar forte. Assim, a gente brilha.

Como é conviver com Lugano?

Nunca tive um capitão como ele. Primeiro, ele cuida da gente e depois dele mesmo. E da Celeste, é claro.

Houve um problema entre Lugano e o pai de Cavani?

Problema nenhum. O pai de Cavani disse alguma coisa sobre a fase dele e ele não deixou o assunto crescer. Para nós, da seleção, o pai de algum jogador pode falar de outro, mas nós não podemos falar do pai de um amigo. Isso é o fundamental.

Você fez um gol importante pela seleção uruguaia contra a Colômbia.

Sim, foi nas Eliminatórias para a Copa 2010. Ganhamos por 1 a 0 em Bogotá e fiz o gol de cabeça. Mas o gol mais bonito da minha vida eu fiz aqui no Brasil, jogando pelo Nacional. Foi de bicicleta, contra o Santos.

A torcida pode esperar por outro?

Melhor não (ri bastante).

Está ansioso pela estreia?

Estou com muito vontade de jogar, estou muito bem fisicamente, mas não estou ansioso. O time está jogando bem e sei esperar minha hora.

A Celeste vai se classificar para o Mundial?

Tivemos uma vitória muito importante contra a Venezuela e isso nos deu força.

Você terá lugar no time?

Há uma disputa muito boa: Arévalo, Peres, Gargano, Gonzales, eu e agora o Cristóforo, da seleção sub-20. Estou com 32 anos e uma hora a velha guarda tem de sair. Mas espero estar no grupo.

E depois do Mundial, você se retira da seleção?

Isso não sou eu quem decide. Você não força a entrada para a seleção uruguaia e também não tem direito de dizer não. Enquanto me chamarem, eu vou. É meu maior orgulho.

Você fez umas fotos usando cueca e com uma modelo apertando sua bunda..

Minha mulher deu permissão.  Os jogadores uruguaios não tinham uma imagem muito boa com a população até o Mundial da África do Sul. Então, as coisas mudaram. Só se fazia propaganda de jogadores de outros países e foi um dos motivos que eu aceitei. O dinheiro foi bom, mas não foi muito bom. As pessoas entenderam, mas meus colegas da seleção fizeram a maior gozação. O vestiário ferveu.

Já se acostumou com churrasco e pagode?

Como não? Morei na Noruega e todos diziam que a melhor carne do mundo é a do Cone Sul, com Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Temos de valorizar isso. Na minha casa, eu ouço Titãs, Legião Urbana, Cazuza e Cássia Eller mas os meninos aqui cantam muito pagode no vestiário e estou aprendendo também.

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Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.


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