Drama de Luciano Cafu, brasileiro que o frio quase matou em Montevidéu
Menon
18/09/2013 12h59
Luciano Barbosa de Jesus, brasileiro de 41 anos, tem o apelido de Cafu. Ganha a vida como lateral-direito do Rentistas, do Uruguai. Foi um dos destaques da campanha do acesso do clube no primeiro semestre. Cafu tem um bom nome no futebol uruguaio. Foi campeão com o gigante Peñarol em 2001 e também jogou no Cerro Largo, Cerro, Danúbio, Fénix e Bella Vista. E foi justamente contra o Cerro Largo, um de seus ex-clubes que passou por uma situação dificílima no domingo. O frio quase o matou.
O Rentistas dominava o jogo no primeiro tempo, conta o Observador, de Montevidéu. Jogava no campo do adversário. Não era atacado. Seu goleiro e seus zagueiros enfrentavam o frio correndo de um lado para outro, dando trotes e fazendo exercícios.
Quando o árbitro Yimi Álvarez apitou o final do primeiro tempo, Cafu deu um grande pique rumo ao vestiário. Chegou e assustou quem já estava lá ou quem chegava depois. Tremia muito de frio. "Fui um dos primeiros a chegar no vestiário e já estava me sentindo mal. Comecei a gritar que não aguentava mais, me perguntavam o que estava acontecendo e eu apenas repetia que não aguentava mais".
Era hipotermia, que é diagnosticada quando o corpo atinge temperatura abaixo de 35 graus. "Foi o maior frio que já passei na minha vida e treima muito. Entrei no chuveiro mas não havia muita água quente. Não sentia meu corpo. Não consegui voltar para o segundo tempo, ainda bem porque além do frio, começou a chover. Se voltasse, ia morrer."
Enquanto os amigos voltavam ao jogo, ele se cobriu com todos os cobertores possíveis, tomou muito café quente e escutou o jogo pelo rádio. Depois, ao final, explicou como se sentia em campo. "Como a gente não era atacado, eu andava de um lado para o outro, mas a boca estava dormente, os braços estavam duros e não sentia as pernas."
O lateral brasileiro, depois de recuperado, reclamou da maneira como os jogadores são levados em conta em situações desse tipo. "Nunca somos ouvidos, não apenas no Uruguai, mas no mundo todo seguem jogando com chuva, com raios, o jogo tem de passar na televisão. Aqui, é preciso entra em campo e nada acontece. Pouquíssimas vezes suspenderam uma partida e depois que começou, tem de ir até o final, não interessa se tem raio ou chuva".
A revolta de Cafu continua. "Falam que não tem datas, mas e daí? Vai ter de morrer alguém? Tem o ano inteiro para jogar, não vai terminar o mundo se terminar o campeonato antes ou depois. O mundo é assim, pode morrer alguém em campo e o futebol não vai parar nunca".
É o desabafo de Cafu. Mesmo se fosse o Cafu mais famoso a falar, nada mudaria.
Sobre o Autor
Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.