Fifa mancha futebol ao facilitar naturalização para europeus
Menon
17/10/2013 14h38
O selecionado de futebol de um país é isso mesmo: a seleção dos melhores jogadores de um país. Ele representa, ao contrário dos clubes, o futebol de um país. O Barcelona não representa o futebol espanhol. Não representa o futebol da Catalunha, embora os catalães tenham tanto orgulho – orgulho merecido – de seu time. Quem representa o futebol da Espanha é a seleção da Espanha.
Quanta obviedade estou escrevendo, não? Toda criança sabe disso. São verdades acacianas, absolutas. Menos para a Fifa. Para a "entidade máter do futebol mundial" como se dizia antigamente, as seleções nacionais podem deixar de ser o melhor futebol produzido por um pais e passar a ser o melhor futebol que o dinheiro pode comprar.
Tudo passa pela flexibilização da lei dos estrangeiros, vamos chamá-la assim. Até hoje, se um jogador já defendeu uma seleção nacional em amistoso, ele não pode disputar competições internacionais por outro país. A Fifa quer mudar. Agora, só está proibido de jogar por um país desde que haja disputado competição oficial por outro.
O exemplo mais comum é Diego Costa, que a Espanha quer naturalizar. É possível que Felipão o convoque, para evitar que o jogador se torne "espanhol". Foi o que Sabella fez no jogo da Argentina contra o Uruguai. Convocou e colocou por minutos em campo o zagueiro Icardi, que estava na mira da Itália.
Nada contra naturalização. Mas tudo contra naturalização oportunista. Diego Costa aceitou convocação da seleção brasileira há um ano. Então, ele queria ser brasileiro. Como não foi chamado mais, quer virar espanhol. É o dinheiro mudando a correlação de forças no futebol.
A Espanha pode ser campeã sem Diego Costa, como foi campeã sem Marcos Sena. A Itália seria campeã sem Camoranesi. E não será com Osvaldo. Mas a questão não é essa. Diz um velho ditado popular que onde passa um boi, passa uma boiada. Será surpresa para alguém se o Qatar, sede da Copa-2022 fizer um time apenas de jogadores estrangeiros de alto nível. Já está naturalizando garotos na faixa de 15, 16 anos, o que é errado. Mas, se a Fifa permitir, como parece estar permitindo, o jogo será mais alto. Não haverá naturalização de garotos e sim de jogadores formados, de alto nível.
E esses jogadores representarão o Qatar. Mas estarão representando o futebol do Qatar? Existe futebol no Qatar?
A flexibilização na questão de naturalização favorece os países mais ricos. Luis Monti foi vice-campeão mundial pela Argentina em 1930. Foi campeão pela Itália em 1934. A prática é antiga, tem 8o anos. Puskas jogou copa pela Hungria e pela Espanha.
Dos países sul-americanos, que eu saiba, apenas o Uruguai recorreu à naturalização. Falo de Hohberg, grande atacante nascido na Argentina. A naturalização não foi possível em 1950 mas ficou pronta para 1954. Ele fez dois gols no empate da Celeste contra a Hungria. Desmaiou após fazer o segundo gol, no último minuto de jogo.
É essa Copa do Mundo que queremos? Com seleções formadas a partir do dinheiro, com apoio de sheiks e multinacionais. A Adidas pode montar uma seleção para as Ilhas Faroe. A Nike pode fazer outra para Chipre.
Façam o que quiserem, o Brasil e a Argentina sempre serão dois dos favoritos. Pelé, com 17 anos, foi campeão do Mundo. Puskas, não.
O dinheiro europeu pode mudar a história das Copas, mas nunca mudará a história do futebol. Eles, com todo o dinheiro, nunca produzirão um Pelé, um Garrincha, um Maradona, um Messi, um Di Stefano, um Romário. E, se produzirem, podem perder para um Obdulio.
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Sobre o Autor
Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.