Não dá mais. Desisti dos Estaduais
Menon
15/04/2014 06h06
Para mim sempre foi fácil e prazeroso defender os estaduais. Ao menos, o de São Paulo. Foi com ele que aprendi a gostar de futebol. Foi com ele que vi grandes craques.
E não vi grandes times apenas na Capital. Era um tempo em que os jogadores não iam para a Europa, ficavam no Brasil por muito tempo. Ficavam nos grandes. E os times do interior, pelo menos os mais bem estruturados, mantinham jogadores que poderiam estar nos grandes times.
Se Robinho, Diego e Neymar ainda estivessem na Vila, Geuvânio, Gabriel e Thiago Ribeiro estariam em times do interior. Em times fortes.
Era assim com a Ferroviária, de Rosan, Beluomini, Rossi, Fernando e Fogueira, Dudu e Bazzani, Faustino, Maritaca, Téia, Lance, Pio….Sim, tem mais de onze. Muito mais.
E o Botafogo de Aguillera, Wilson Campos, Nei, Manoel e Mineiro, Lorico e Mário, Ze Mario, Sócrates, Geraldão e Motoca? Ou Capeta?
E o Guarani de Edson, Julio Cesar, Ricardo Rocha, Flamarion, Careca, Evair, Renato, Zenon… A Ponte de Carlos, Valdir Peres, Dicá, Oscar, Samuel, Teodoro, Chicão? Junte os dois, faça uma seleção e desafie qualquer time europeu campeão do mundo. Dá jogo, amigos.
Era bom ver uma cidade animada, preparando-se para receber o grande. Estádios lotavam. Craques eram revelados.
Pois bem, com dor no coração, eu abandono o barco. Não dá mais. Nem o pessoal do interior se anima a ver um jogo no estádio. As rendas são fracas, não há mercado. Há exceções, como o Come-Fogo, que foi espetacular.
É estranho falar em fim dos estaduais justamente quando um time do interior vence. Mas e daí? O que mais o Ituano poderá fazer no ano, além de disputar a Série D? Por quanto tempo esses jogadores terão emprego? E os do Botafogo, que nem na Série D estarão? O que farão os outros times, sem calendário, sem jogos?
Antigamente, o campeonato paulista durava muito tempo, havia emprego para todos. Hoje, é nada. São 15 jogos e desemprego.
Os estaduais, por mais triste que seja, não fazem bem financeiramente aos clubes do interior. Ou, pelo menos, não são bons o suficiente.
Acabar com o Estadual não significa abandonar o interior. Apenas uma maneira fria de encarar a realidade. Eles precisam acabar porque já acabaram há tempos. Só os saudosistas não percebem.
Se o estadual não merece continuar, os clubes do interior precisam ser ajudados. Eles são fontes de revelação de jogadores. Gosto da proposta do Bom Senso, com um calendário que abranja todo o ano. A criação da Série E e o fortalecimento da D – com centenas de clubes em cada uma – permitiria um planejamento aos clubes menores. Teriam jogos por todo o ano, no mínimo 30 participações.
Esses campeonatos deveriam ser subsidiados pela CBF, uma entidade milionária. Campeonatos bem organizados, dinheiro para transporte, prêmios e exigência de uma porcentagem de jogadores abaixo de 20 anos no elenco. Fortalecer quem fornece jogadores a cada ano. a
O Paulista seria uma Copa anual, com um mês de duração, como o Mundial da Fifa. Uma forma de se preservar a história para os saudosistas como eu e também para se adaptar aos novos tempos..
Sobre o Autor
Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.