Zito e as almofadas da sala da casa da minha avó
Menon
15/06/2015 18h11
A primeira lembrança que tenho do futebol é de quando, com quatro anos, na sala do meu avô materno, recitava o poderoso ataque do time de meu pai, recém campeão paulista.
O gol de Zito foi comemorado pelo menino gordo com uma bagunça incrível. Almofadas foram jogadas para o alto, junto a gritos solitários. Estava sozinho na sala. E, sozinho, fui obrigado a pegar tudo e a colocar no lugar correto.
Muitos anos depois, vi Zito na Vila. Estávamos no mesmo elevador. O Santos iria fazer um jogo contra o Boca, pela Libertadores, e ele se irritou com alguns prognósticos que depois se confirmariam. "Chegamos ao ponto de ter medo de Barros Schelotto, é isso? Não dá para ter medo de Barros Schelotto".
Com a morte de Zito, da seleção titular de 58 estão vivos apenas Pelé e Zagallo. De 62, os dois e mais Amarildo.
Em 2001, eu o entrevistei para o livro "Os donos do mundo", que escrevi com o grande amigo Rubens Leme da Costa. Abaixo, um resumo.
"Comecei a jogar em Taubaté e um delegado de polícia, dr Maneco me indicou para o Santos. Cheguei em 1952, com 20 anos. (….) Em 57, disputei o sul-americano de Lima e consegui uma vaga para a Copa. Era reserva de Dino Sani, muito diferente de mim. Ele era clássico, técnico e não corria muito. Eu tinha mais raça, movimentação, mas não era como o pessoal de hoje, que dá muita pancada. Sabia meter uma bola, chegava ao ataque, arriscava um pouco e surpreendia os adversários. Estreei no terceiro jogo, contra a Rússia. Foi um jogo lindo, o Garrincha fez uma festa, deu tantos dribles, ninguém acreditava naquilo. Foi tranquilo ganhar o Mundial.
Em 62 estávamos mais velhos, perdemos o Pelé, todo mundo sentiu um frio na barriga, mas o Amarildo deu conta do recado.
Foi em Santiago. Igualzinho como eu ouvi no rádio da minha avó, na Major Braga, em Aguaí.
Sobre o Autor
Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.