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Árbitros são arrogantes, prepotentes e despreparados. Como o Florisvaldo

Menon

29/06/2015 12h33

O recreio do Grupo Escolar José Theodoro de Moraes, lá em Aguaí, tinha a paz dos cemitérios. O grande terreno era dividido em dois, por uma linha imaginária. De um lado, ficavam as meninas. Do outro, nós. No meio, de um lado para o outro, berrando de forma furibunda, estava o Florisvaldo.

Florisvaldo, o inspetor de alunos, decidiu que não poderia haver interação entre crianças de 7 a 10 anos. Interrompeu o que havia antes, no Jardim da Infância, quando se brincava de pique e lenço atrás. Florisvaldo talvez acreditasse em uma libido inexistente.

Proibia o futebol e a bolinha de gude tinha de ser jogada sem muito barulho. Nada de comemoração. Nessa hora, eu até gostava da separação. Seria muito humilhante perder na bolinha de gude para a minha irmã, Susana, como ocorria diariamente no quintal de casa. Vergonha caseira, sim. Em público, não.

Eram os tempos da ditadura e Florisvaldo era a expressão maior e mais próxima que tínhamos da repressão. Millôr Fernandes, acho, disse que, na ditadura, o perigo não é o general de plantão e sim o guarda da esquina, o porteiro do prédio….Os que podem exercer o pequeno poder. Os florisvaldos.

A arbitragem do Brasil está cheia de florisvados. Cheia de árbitros arrogantes e prepotentes, prontos a exercer seu pequeno poder. Prontos a aparecer no jogo muito mais que os jogadores. Prontos a estragarem o jogo, se preciso, para mostrarem que são florisvaldos.

O gaúcho Anderson Daronco é um exemplo. Vejamos sua explicação para a expulsão de Juan Carlos Osorio, contra o Palmeiras. "expulsei no intervalo da partida, o técnico do são paulo f.c. o sr. juan carlos osorio arbelaez, pois o mesmo aguardou a passagem da equipe de arbitragem na área mista (saída do campo), vindo em minha direção reclamando com o dedo em riste, dizendo: "a advertência do meu jogador (número 22, bruno), foi injusta, você errou, você está equivocado". neste momento, comuniquei o mesmo, que ele estava expulso da partida"

O mesmo Daronco havia expulso Guto Ferreira, da Ponte, contra o Cruzeiro, no Mineirão. Na súmula, citou o que Guto Ferreira lhe disse no intervaldo do jogo: "Eu não reclamei das decisões dele, é muita pressão em cima da gente, só desabafei com meu banco"

Perceberam? Ninguém chamou Daronco de ladrão, não houve um "filho da puta" na frase, Osorio não soltou um "cabrón pelotudo" em castelhano. Nada disso. Foram expulsos assim mesmo pelo Florisvaldo gaudério.

O paraense Dewson Fernando Freitas expulsou David Braz contra o Inter. Leiamos a súmula:

"Expulsei aos 32 minutos do segundo tempo, por receber uma segunda advertência na partida, o sr. david braz oliveira filho, da equipe santos futebol clube, por reclamar e gesticular de forma acintosa proferindo as seguintes palavras: "porra não foi mão, tu viste ai!!! prejudicaste nosso time!!. após ter sido expulso, o jogador apontou o dedo em direção ao meu rosto de forma agressiva sendo retirado pelos demais jogadores de sua equipe. ao sair do campo de jogo, recebi a informação do árbitro reserva diego a. real, de que o jogador expulso continuou a reclamar na saída do campo de jogo proferindo as seguintes palavras: " vocês e a comissão estão acabando com o futebol!!! isso aqui não é sub 20, juvenil!!! vou denunciar para todo mundo!!!. após proferir estas palavras, o jogador foi contido e retirado pelo auxiliar técnico de sua equipe. o jogador ficou no túnel de acesso e neste momento, o quarto árbitro foi solicitar que ele saísse do túnel e novamente o jogador expulso proferiu as seguintes palavras: "deixa eu falar!!! a comissão ta acabando com o futebol!!! isso não é sub 20!!

Toda a gritaria de David Braz foi APÓS ser expulso. Por uma frase comum em todo jogo, em toda pelada, em toda decisão de Copa do Mundo. O Florisvaldo podia ter dado um esculacho, mandado parar, mandado calar a boca, só não precisava expulsar. Mexe com o jogo. Com o campeonato. Os treinadores cumprem suspensão automática. Ficam fora do jogo seguinte por ousarem abordar um árbitro, mesmo sem  palavrões.

Além de autoritários, são corporativos. Igor Benvenuto, Florisvaldo de Minas, interrompeu o jogo Corinthians x Figueirense e ordenou a retirada de uma faixa que protestava contra a arbitragem de Carlos Amarilla, em 2013, no jogo Boca x Corinthinas. Ditadura. E se fosse uma faixa contra Dilma ou Alckmin. Ou Marco Polo, nosso Belo Antônio?

O colega Daniel Cassol, em seu blog "Futebol e Outras Guerras" relata outros casos.

1) Lisandro López, do Inter, foi expulso contra o Coritiba pelo Florisvaldo André Luiz de Freitas Castro, que deve ter exultado ao escrever a justificativa na súmula. "Não foi nada, não foi para cartão amarelo. Não fiz nada, por que você fez isso?". "Deixou o campo sem maiores problemas".

E o que Gilberto, do Vasco, disse para Helber Roberto Lopes, o calvo Florisvaldo? "Caramba, brincadeira!",

Marcelo de Lima Henrique justificou assim a expulsão de Vinícius Eutrópio, treinador da Chapecoense; "Ele reclamou com gestos (levantava e abaixava os braços) e gritava "foi falta, foi falta"

Jogadores são expulsos por "se excederem na comemoração".

E há muitos exemplos de florisvaldismo por aí. Arrogância, prepotência e ignorância usando farda. O maior exemplo é Sandro Meira Ricci, expulsando todo mundo na Copa América. E nem viu a dedada de Jara.

Nosso futebol está ruim. E as arbitragens ainda piores.

 

 

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Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.


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