Daniel Augusto Jr, a (o) cara do Corinthians
Menon
12/09/2015 06h00
Daniel Augusto Jr,, repórter-fotográfico – não o chame de fotógrafo que ele fica bravo – tem o emprego dos sonhos. Dos sonhos dele, é lógico.
Corintiano desde "mil oitocentos e nada", ele é, desde 2008, a cara oficial do Corinthians. Vai a todos os jogos, viaja no mesmo ônibus dos atletas, almoça nos mesmos restaurantes e tem sido o homem que imortalizou, através de oito livros, as grandes conquistas corintianas, desde a volta á Série A até o Mundial de Clubes.
Abaixo, um resumo da conversa.
CORINTIANO
Sou corintiano desde 1800 e nada por causa do meu pai. Na década de 50, existia a revista Corinthians, editava por Octávio Muniz, pai do Tatá Muniz. Meu pai comprava todas e eu me deliciava com aqueles times posados, com Cláudio, Baltazar, Carbone, Mário e tantos outros.
ARQUIBANCADA
Desde os 13 anos, em 1963, corro atrás do Corinthians. Não sou fundador da Gaviões, mas fiz parte do núcleo inicial, com o Flávio la Selva, primeiro presidente, e o Chico Malfitani, que depois seria marqueteiro da Erundina e do Suplicy.
FOTÓGRAFO
Eu fiz dois anos de Filosofia na Puc e larguei tudo para viver no interior. Gosto de mato, vaca, leite, pinga… Fui estudar em uma escola técnica em Jaú. Depois, não deu certo e voltei para São Paulo Tinha um amigo publicitário, o Dalton Pastore, que vivia em Londres e que voltaria ao Brasil. Então, estudei fotografia para trabalhar com ele. E deu certo.
PRIMEIRO ENCONTRO
Fui trabalhar na Agência F4, que era muito ligada em política. Ninguém gostava de futebol e eu me ofereci para fazer essa parte. Passei a ir em todos os jogos do Corinthians. Não vendia nada de foto, porque a Agência Estado era muito forte, dominava o mercado, mas era um prazer. O útil unido ao agradável.
FOTO PERFEITA
Não busco o gol, não gosto de foto alta, desde a cabine. O gol vai ser mostrado pela televisão em todos os ângulos. Mas tenho uma foto de gol perfeita. É do Tupanzinho na final de 90, contra o São Paulo. Ela é informativa e tem estética. Mostra as duas traves, a bola quase entrando, tem o Cafu, o Zetti dividindo, tem tudo. Dizem que boa foto é com o sol nas costas. Eu quebrei o paradigma, o sol está na minha frente e ele dá uma aura nos jogadores.
ARMAR FOTO
Nunca fiz e nem farei. Tenho credibilidade. Podia pedir para os jogadores comemorarem o gol na minha direção, teria liberdade para isso, eles aceitariam, mas não faço. Se fizesse, facilitaria para todo mundo, porque hoje em dia, ficamos em uma posição ruim no campo. O jogador vai comemorar com o banco e fica de costas para a gente.
RIVER E A FOTO PERDIDA
Quando o Corinthians foi eliminado pelo River, eu chorei muito na sala de imprensa. Abracei o Daniel Kfouri e perguntei se a gente algum dia ia ganhar essa merda de Libertadores. Foi um dia muito triste. Aquele dia meu trabalho foi muito ruim. Estava contratado pela AP e fiquei com muito medo de morrer porque a torcida queria invadir o campo. Fui salvo por aqueles policiais que foram heróis e seguraram a bronca. No dia seguinte, o Victor Caivano, argentino que me contratou me ligou e muito educadamente disse que tinha visto fotos melhores. Eu respondi que ele estava certo, que meu trabalho tinha sido uma merda e que não merecia receber. Ele pagou assim mesmo.
EXCLUSIVIDADE NO LANCE!
Eu e Nelson Almeida éramos os editores e fotógrafos também. Como ganhava mal, me escalava para fazer o Corinthians. Era em comum acordo com o Nelson. Nunca fiz isso para vender foto, mesmo porque a agencia Lance não vendia nada. Era prazer mesmo.
FELIZES PARA SEMPRE
Saí do lance! Em 2001 e voltei a ser frila. Em 2003, fui trabalhar no site do Corinthians e em 2008, fui trabalhar no clube. Nem quis saber quanto eu ia ganhar. Sempre quis fazer esse trabalho de bastidores do clube e estou lá até hoje.
LIVROS – 2008, "EU VOLTEI", volta para a série A do Brasileiro;
– 2009, "INVICTO E FENOMENAL", Paulista 2009;
– 2009, "DO INFERNO AO PARAISO", Copa do Brasil;
– 2011, "PENTACAMPEÃO", Brasileiro de 2011;
– 2012, 'LIBERTADOS", Libertadores;
– 2012, "BICAMPEÃO DO MUNDO";
– 2013, "#GANHA MUITO", Paulista de 2013;
– 2013, "AS CINCO PONTAS DE UMA ESTRELA", homenagem ao Tite.
LIBERTADORES
Eu merecia ter vivido essa parte da história do Corinthians. Desde a chegada do Ronaldo, quando o clube se profissionalizou. E o título na Libertadores. Sempre gostei do Marco Aurélio Cunha, acho que ele faz brincadeira saudável. Mas também tinha raiva daquela história de passaporte. Quando ganhamos a Libertadores, veio aquela sensação de que ninguém pode mais falar nada. O gol do Ralf aos 49 do segundo tempo, o erro do Diego Souza, a cavadinnha do Romarinho na Bombonera. Inesquecível. Nunca perdi um lance, uma foto, mas depois eu me esbaldo. Chuto placa, abraço companheiro, grito.
CHELSEA
Foi a cereja do bolo, mas a grande alegria foi mesmo a Libertadores. Vi o Ashley Cole contra o Monterrey e pensei que a coisa ia ser muito dura. Então, o Tite colocou o Jorge Henrique para acabar com ele e fomos campeões.
ACLAMADO
Em 2013, ganhamos um título na Vila. Fiz meu trabalho e fui para casa. A Vila estava vazia, só uma parte da torcida corintiana. Então, eles começaram a gritar É Da-Ni-El, É Da-Ni-El…. Foi emocionante.
Então, amigo, se você quiser contratar o Daniel, esteja pronto para fazer uma oferta muito maior do que o que ele ganha atualmente. Ou então, oferecer algum bônus envolvendo jogos do Corinthians. Talvez com que ele seja escalado no time principal…. O resto, ele já tem.
Sobre o Autor
Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.