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Inter de Milão e Vila Curuçá. Tudo a ver

Menon

08/12/2015 06h05

Foto de Simone Alauk

O calor, no 5 de dezembro, pela manhã,  é senegalesco. Daqueles de fazer repórter fora de forma ansiar por um gole dágua.  Estamos em Vila Curuça, aproximadamente 30 quilômetros do centro, mas quem pensar em Dakar não estará tão fora da realidade.

Os garotos, mais de 50, todos vestidos com camisetas azul e negra não sentem. Correm atrás da bola com toda a alegria que essa comunhão – garoto-bola – tem, em qualquer canto do mundo.

O goleiro toca de lado, sem chutão. E a bola vai caminhando, como uma serpente, de pé em pé, sempre na diagonal, até o gol, concluído sem pressa alguma.

"Espetacolo, espetacolo, tutti di prima. Como il Barcelona", grita, entusiasmado, o professor.

Globalização total. Garotos da Zona Leste de São Paulo enfrentam um calor africano, sendo orientados por um professor italiano, pago pela Internazionale de Milão, que vibra com um gol ao estilo Guardiola.

O fio condutor de tudo é o futebol. E o padre Vicente Frisullo, italiano de Roma e que…nem liga para futebol. Gosta mesmo é de ciclismo é do Giro da Itália.

Frisullo é o responsável pelo Centro Nossa Senhora de Fátima, na Vila Curuça. Viaja todo ano à Itália. Estava fazendo um curso de arte e um filho de um amigo lhe disse que era amigo de Carlota Moratti, filha de Massimo Moratti, ex-presidente da Internazionale.

Da conversa entre ambos, nasceu a proposta, aceita rapidamente pelo padre, de se instalar na Vila Curuça um projeto da Inter que já existia em 29 países do mundo, como Camboja, Iran, Paraguai, Bulgária. O fotógrafo Franco Origlia lançou um livro sobre o projeto através do mundo.

E são três campus em São Miguel: Vila Curuça, comunidade Água Vermelha e Jardim Santo Antonio, que atendem 220 crianças entre 6 e 13 anos.

A Internazionale doa uniforme completo para os garotos, entregues no inicio de cada ano, a partir de 2012. E ainda 7,4 mil euros para o pagamento de professores.

O projeto é acompanhado de perto, por profissionais da Inter. No dia 5, lá estavam Stefano Capellini e Alberto Giacomini. "No primeiro dia do garoto, fazemos questão de dizer a eles e aos pais que ele não será jogador da Inter. A busca de talentos não é nosso setor, tem gente especializada para isso. O que queremos é a inclusão social e maior socialização das crianças".

O segundo recado é que todos precisam ir à escola. E quem tiver boletim com três notas vermelhas, não pode jogar. Acompanha os colegas, fica no banco, pode torcer, mas não joga.

Há outros campus no Brasil: na favela da Maré, no Rio, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte. Sempre em comunidades carentes.

Cappelini diz que o trabalho no Brasil é mais fácil do que em outros países. No Camboja, há a dificuldade de os garotos saberem o que é futebol. "Eles não têm referência, não conhecem os grandes craques do mundo".

O padre Frisullo busca novos parceiros. Ele deseja cobrir a quadra esportiva da Paróquia. Algo mais consistente do que o trabalho de voluntários, que no mesmo 5 de dezembro, preparavam um jantar dançante para a noite.

E a Inter? "Não queremos nada. Talvez ganhar algum garoto tifoso (torcedor), ri, Capellini.

 

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Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.


Menon